O Algar da Chou Jorge em Cabeça das Pombas

Situado no sopé da vertente setentrional de um vale seco que desce das serras da Mendiga para o interior do Planalto de Santo António, o Algar da Chou Jorge é outra das cavidades descidas por Ernest Fleury no início do século XX durante o seu trabalho na área de recarga da nascente dos Olhos de Água do Alviela. Este algar só voltaria a ser identificado com fins espeleológicos no início da década de 70 quando equipas da SPE, constituídas por José António Crispim, João Sena e Carlos Sá Pires, entre outros, prospectando a região de Cabeça das Pombas, ouviu contar que “apareceu por aí um francês que trazia burros com cordas e paus, acompanhado por uns dez homens; chegaram ao algar, montaram os paus em tesoira por cima da boca, com uma roldana por onde passavam as cordas; o francês ia descendo até ao fundo do algar enquanto os outros cá fora seguravam a corda para o descer”. Ainda segundo o senhor Adelino Valente, de Cabeça das Pombas, que tinha 70 anos quando contou esta história e 14 quando a presenciou, e que ganhara 6 vinténs por trabalhos prestados ao “francês”, mais tarde, em ano de grande seca, homens da aldeia teriam tentado a mesma proeza mas chegados a certo ponto desistiram e pediram para ser puxados para cima, não sem que antes tenham baixado a corda, cuja ponta recolhida bastante molhada lhes permitiu concluir da existência de água dentro do algar, embora de pouca utilidade em virtude da grande dificuldade em atingir esse ponto.

As descidas feitas por aquelas equipas da SPE permitiram vencer um poço inicial de mais de 30 metros com base em rampa inclinada e pedregosa a partir da qual o algar estreitava até quase aos 70 m de profundidade, deixando ver a parede oposta com mantos de calcite em forma de medusas escalonadas até à base, estreita e colmatada com pedras. Da água no poço inicial não deram sinal mas em poços laterais foi possível atingir quase os –100 metros e mais tarde sondar um poço cego que colocaria a profundidade total da gruta perto dos –110 metros. O poço, alongado e com cerca de 35 m de desnível, que leva até perto dos –100 metros tem as paredes muito concrecionadas e em certas épocas do ano acumula-se água na sua base.

Algar da Chou Jorge

Duas fotos tiradas nas primeiras expedições da SPE em 1970: à esquerda mantos estalagmíticos nas paredes do poço inicial, a cerca de 60 metros de profundidade; à direita aspecto da descida com escadas, feita com limitada segurança, observada por alguns cautelosos habitantes locais.

J.A.Crispim, Maio 2012

Como citar este artigo: Crispim, J.A., O algar da Chou Jorge em Cabeça das Pombas, in https://www.spe.pt/espeleologia/prospeccao-e-cadastro-espeleologia/331-o-algar-da-chou-jorge-em-cabeca-das-pombas, Maio 2012