Contenda inundada

No reinício dos trabalhos na gruta da Contenda fomos encontrar os sifões inundados, uma situação que já ocorria antes das chuvas e se agravou com as recentes trovoadas. O plano de trabalhos previsto foi antecipado e no dia 18 iniciou-se já o transporte dos equipamentos de bombeamento de modo a apressar o esgotamento dos sifões iniciais e permitir avançar nas Galerias Superiores.

Poluição do Sifão das Areias, Meandro dos Fósseis e Galeria do Rio

Nova descarga de efluentes da fábrica de transformação de pimentão poluiu as águas desde o Sifão das Areias até à Galeria do Rio na Contenda. As equipas a trabalhar neste sector correram perigo de vida. Esta situação motivou já uma tomada de posição oficial da SPE, encaminhada para a Câmara de Porto de Mós, CCDRC e SEPNA, cujo teor se reproduz a seguir:

“Ex.mos Senhores

A Sociedade Portuguesa de Espeleologia vem por este meio denunciar a grave situação detectada em flagrante na Gruta dos Moinhos Velhos, em Mira de Aire.

No passado sábado, dia 19 de Setembro, uma equipa desta associação explorava um sector situado na parte sul da gruta quando a galeria começou a ser inundada por efluentes de cor vermelha e espuma branca. Em pouco tempo, os gases emanados tornaram o ar de tal modo irrespirável que o retrocesso foi feito em condições penosas e chegou a temer-se pelo sucesso da retirada. Uma galeria situada acima estava também parcialmente inundada com esgoto com as mesmas características. O esgoto aparece através de fendas situadas na parede e no tecto e após inundar a parte baixa da galeria escoa-se por fendas e atinge as galerias inferiores até chegar ao nível freático, contaminando as águas que circulam nesta gruta e nas grutas confinantes (gruta da Pena e gruta da Contenda).
Esta situação tem vindo a ser detectada há vários anos e embora nunca tenha ocorrido como agora, com perigo de vida para espeleólogos, impede durante um largo período do ano a realização de trabalhos no sector sul da Gruta de Moinhos Velhos, contamina todas as águas retidas nas galerias e os cheiros atingem frequentemente a parte turística da gruta (Grutas de Mira de Aire) junto ao elevador de saída.
A ocorrência agora relatada constitui mais uma prova, se necessário fosse, de que o estabelecimento de produção de massa de pimentão (J.A.C. Ferreira, Lda., Rua General Trindade, nº 548, Mira de Aire), situado na vertical das galerias referidas, é o responsável pela produção e introdução dos efluentes na gruta, identificados pela cor, cheiro e sementes transportadas.

A Sociedade Portuguesa de Espeleologia reclama das entidades competentes as diligências necessárias para pôr cobro de imediato a esta situação, de modo a poder continuar os trabalhos iniciados na parte da gruta afectada ou, pelo menos, recuperar o equipamento deixado na zona perigosa.
Para isso consideramos obrigatório:
1 – A cessação imediata do lançamento dos efluentes nas fossas utilizadas pelo referido estabelecimento;
2 – Limpeza das fossas e introdução de volume de água suficiente para efectuar a lavagem das fendas e galerias situadas por baixo;
3 – Selagem completa das fossas, devendo o proprietário passar a fazer a recolha dos efluentes em contentores próprios e efectuar o seu transporte para a unidade de tratamento mais próxima.

Certos do V. empenho em resolver de forma definitiva esta anacrónica situação, que degrada as grutas naturais mais famosas de Portugal, prejudica o turismo a elas associado e é gravemente lesiva da qualidade das águas do sistema aquífero do Maciço Calcário Estremenho, solicitamos ser informados das iniciativas tomadas, bem como da data em que rapidamente poderemos reatar os trabalhos.”

MV-Contenda-2009-09-09P1010099

Tubagem para esgotamento dos sifões iniciais

Preparando o sistema de bombeamento dos sifões iniciais

Moinhos Velhos - Lago inundado com esgoto da fábrica de transformação de pimentão

Aspecto do efluente com espuma branca e sementes de pimentão

Dando continuidade ao projecto de topografia detalhada da nascente dos Olhos de Água do Alviela, que a SPE promove desde 2007, vai ter lugar mais uma campanha de espeleomergulho que durará quatro dias.
A equipa de mergulhadores de Portugal, Espanha e Itália vai estar concentrada na limpeza, reequipagem e topografia das galerias principais que por sua vez dão acesso às galerias mais profundas.

Alviela, Foto: Fabrizio Tosoni - 2009
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Decorreu no último sábado, 12 de Setembro de 2009, a inauguração do SPECOFET, o nosso Centro de Apoio das Actividades Espeleológicas do Covão do Feto. Contou com a presença do senhor vereador Eduardo Marcelino Camacho, da Câmara Municipal de Alcanena, que presidiu à sessão de inauguração e descerrou a placa alusiva, em conjunto com o presidente da SPE. Intervieram também o presidente da Junta de Freguesia de Monsanto, o vice-presidente da SPE e o presidente da Delegação de Minde. Em simultâneo decorria a apresentação de numerosas imagens alusivas às grutas do concelho.
Além dos sócios da SPE provenientes de vários pontos do país, estiveram também presentes: o Director das Grutas de Mira de Aire, uma delegação da Sociedade Torrejana de Espeleologia e Arqueologia e moradores da localidade, nossos vizinhos. Foi por todos referido o grande interesse deste novo equipamento no desenvolvimento das condições do trabalho espeleológico que a SPE tem desenvolvido na região.
À cerimónia seguiu-se um convívio informal que reconfortou os estômagos e aliviou as gargantas da secura existente (à superfície) no nosso Maciço Calcário Estremenho.
Inaugurao_SpeCoFet2_Antes_da_hora1

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Fotos: Pedro Marote
A SPE decidiu não protelar mais a intervenção nesta gruta, pelo que será retomada a realização do plano de trabalhos que foi extemporaneamente interrompido pela intromissão de outros grupos na gruta.
Deste modo, nos próximos fins de semana serão efectuadas expedições à Gruta da Contenda, com os seguintes objectivos:
  • 1 – Observação do nível da água nos sifões
  • 2 – Avaliação do estado dos sistemas de bombeamento instalados pela SPE em 2007 e 2008
  • 3 – Execução de projecto de ampliação dos sistemas de bombeamento a situações extremas
  • 4 – Início da reequipagem da gruta
  • 5 – Montagem de sistemas de tracção de cargas nos poços
  • 6 – Colocação de fluorómetros na gruta
  • 7 – Realização de traçagens
  • 8 – Transporte de equipamento de exploração subaquática
  • 9 – Exploração espeleológica subaquática
  • 10 – Topografia espeleológica subaquática
  • 11 – Filmagens subaquáticas
  • 12 – Nivelamento
  • 13 – Fotografia
  • 14 – Estudo geológico
  • 15 – Estudo biospeleológico
  • 16 – Desobstrução
  • 17 – Desequipagem da gruta
  • Expedição de 18, 19 e 20 de Setembro: Pontos 1, 2 e 4
  • Expedição de 25, 26 e 27 de Setembro: Pontos 2, 3 e 4
  • Expedição de 2, 3, 4 e 5 de Outubro: Pontos 3, 4, 5, 6 e 16
  • Expedição de 9, 10 e 11 de Outubro: Pontos 5, 7, 8, 12, 13 e 16
  • Expedição de 16, 17 e 18 de Outubro: Pontos 7, 8, 9, 12, 13, 14 e 16
  • Expedição de 23, 24 e 25 de Outubro: Pontos 8, 9, 13 e 14
  • Expedição de 30, 31 de Outubro e 1 de Novembro: Pontos 8, 9, 10, 11, 13, 14 e 15
  • Expedição de 6, 7 e 8 de Novembro: Pontos 8, 9, 10, 11, 13, 14 e 15
  • Expedição de 13, 14 e 15 de Novembro: Pontos 15 e 17
  • Expedição de 20, 21 e 22 de Novembro: Pontos 15 e 17

INSCRIÇÕES: Os sócios interessados em participar deverão inscrever-se até à 4ª feira anterior a cada expedição, contactando para isso José António Crispim (916429375) ou António Sobreira (965131329) ou enviando mail para o endereço Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.
Gruta da Contenda - Foto J. A. Crispim/SPE, 2009

Gruta da Contenda - Foto A. Sobreira/SPE, 2009

Gruta da Contenda - Foto J. A. Crispim/SPE, 2009
O ano hidrológico 2008-09 coincidiu com o 60º Aniversário da SPE e com a ênfase colocada na exploração subaquática do sistema. Dezoito anos depois dos mergulhos de 1991, o Labirinto voltou a ser bombeado e mergulhado a partir do Sifão das Areias. Com o apoio das Grutas de Mira de Aire, S.A. e da Universidade de Lisboa foi projectado dar seguimento ao plano de trabalhos dos anos anteriores, conciliando exploração na zona inundada e na zona intermédia do sistema, apesar das chuvas tardias do início do verão não deixarem prever um êxito semelhante ao de 2007.

Gruta de Moinhos Velhos - Labirinto - Foto A. Sobreira/SPE, 2009

Este Curso de Iniciação à Espeleologia de  tem como objectivo dar aos participantes a capacidade de visitar uma gruta de dificuldade média, quando enquadrados por chefes de equipa habilitados, e descobrir globalmente os diferentes aspectos culturais, científicos e ambientais relacionados com as grutas e regiões calcárias. Realiza-se nos dias 14, 17, 18, 22, 24 e 25 de Outubro de 2009 e é composto por aulas teóricas, treinos técnicos em falésias e visitas a grutas de acesso vertical e horizontal. Espeleologia - Curso de Iniciação - Cartaz - Outubro de 2009
As obras que a Sociedade Portuguesa de Espeleologia realizou no Centro de Apoio das Actividades Espeleológicas do Covão do Feto - SPECOFET já estão prontas. Assim, convidamos todos os sócios a comparecerem na festa de inauguração a realizar no dia 12 de Setembro do corrente ano pelas 18:00h.

Para melhor preparar o evento e tratar do aprovisionamento necessário, agradecemos a confirmação da sua presença para o contacto abaixo indicado até ao próximo dia 8 de Setembro.

Confirmações para:
João Henriques
Tel: 916 919 501
Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.

specofet

Programa

18:00 - Abertura da Sessão e Apresentação dos Convidados (Presidente da SPE: José António Crispim)

18:05 - Discurso do Principal Promotor da Cedência das Instalações (Vereador da C.M. de Alcanena: Eduardo Marcelino Camacho)

18:10 - “ O conceito de Casas Abrigo “ - A importância das pequenas grutas de apoio às actividades da SPE (Vice-Presidente da SPE: João Gonçalves Henriques )

18:20 - Sessão de Perguntas e Respostas

18:30 - Cerimónia do Descerrar de Placa Comemorativa

18:35 - “ As instalações da SPECOFET “ - Visita guiada pelas galerias da SPECOFET ( Presidente da Delegação de Minde: Luís Miguel Lopes )

18:45 - Bufete


Localização do Centro de Apoio a Actividades de Espeleologia do Covão do Feto - SPECOFET

tanlogo

19 a 26 de Julho
Sessões centrais do Congresso
9 a 18 de Julho
Excursão 02 - Coast to coast excursion – western segment


Organizadores:
Thomas R. Strong e Rondal R. Bridgemon (EUA)

Colaboradores:
Peri Franz, Blythe Strong e Gail McCoy (EUA)

Participantes:
José António Crispim e Pilar Vicente (Portugal)
Patrick Deriaz e Daniela Spring (Suíça)
Nadja Zupan Hajna e Anja Hajna (Eslovénia)
Stein-Erik Lauritzen e Birgit A. Stav (Noruega)
Michal Gradzinski (Polónia)
Grace M. Matts (Austrália)
Dieter Mucke e Hannelore Mucke (Alemanha)
27 de Julho a 5 de Agosto
Excursão 02 - Coast to coast excursion – eastern segment


Organizadores:
Kevin W. Stafford e Beth Fratesi (EUA)

Colaboradores:
Travis Taylor, Sara Power, Megan Currey (EUA)

Participantes:
José António Crispim e Pilar Vicente (Portugal)
Patrick Deriaz e Daniela Spring (Suíça)
Michal Gradzinski (Polónia)
Grace M. Matts, Susan White, Nicholas White e Peter Freeman (Austrália)
Martin Trappe e Barbara Trappe (Alemanha)

Dia 8 de Julho

No ar para Londres, lamentando que apenas um hipotético ser, ou não ser, neste universo, ou para além dele, tenha o dom da ubiquidade, vejo passar debaixo dos meus pés as já saudosas serras calcárias do nosso Portugal. Como gostava de também ter podido ficar com os companheiros de exploração, talvez a passar para além dos 300 no Chou do Vale ou a ligar o Regatinho ao Almonda… Mas estou a caminho de Los Angeles com a Pilar, para iniciar amanhã, dia 9 de Julho, a primeira etapa da visita de campo às regiões cársicas do oeste americano, integrada no 15º Congresso Internacional de Espeleologia.
Afinal, vista daqui de cima a Terra não é azul e as terras de que gostamos estão a ficar cada vez mais brancas. As serras de Alenquer e da Ota estarão em breve ligadas por um corredor de pedreiras que nem o canhão do rio da Ota respeitarão. O Planalto de Santo António vai aos poucos aumentando as suas auréolas de destruição. Parques eólicos, estradas ao acaso e até aeroportos clandestinos lavram novos sulcos amarelados pelos cabeços outrora sossegados e selvagens.
Em Londres o voo passa de norte-sul a este-oeste. A verde Irlanda, a Terra Nova e a Gronelândia vão ficando para trás. Já bem dentro dos Estado Unidos, o quadriculado das grandes explorações cerealíferas acaba por dar lugar às Montanhas Rochosas, com relevos variados mas de que sobressaem os tabulares e monoclinais. Os relevos do Utah e o Grand Canyon ficam ainda na memória quando, a 12000 m de altitude e a 900 km/h começamos a descer para a Califórnia.
Já em Los Angeles espera-nos Tom Strong, um dos incansáveis organizadores da visita e avisa-nos que amanhã, com ou sem jet-lag, o pequeno almoço é às 6 e a partida às 7. Vamos a correr para o hotel cumprimentando ainda de passagem o Dieter Mucke e a esposa e ficando a saber que o nosso amigo Stein-Eric, que já não vemos desde o Brasil, está com problemas com os voos e ainda não chegou.

Pedreiras nas serras de Alenquer e Ota @JACrispim - CeGUL- SPE, 2009

Pedreiras no Planalto de Santo António @JACrispim - CeGUL- SPE, 2009

Vista aérea da Gronelândia @JACrispim - CeGUL- SPE, 2009

Vista aérea das Montanhas Rochosas @JACrispim - CeGUL- SPE, 2009

Vista aérea do Grand Canyon @JACrispim - CeGUL- SPE, 2009


Dia 9 de Julho

O Deserto de Mojave esperava-nos com os seus 45º C de temperatura. Antes foi o sistema de falhas associado à Falha de Santo André, responsáveis por tantos e tão famosos sismos (falha de San Jacinto, falha de Glen Helen) e as montanhas e bacias associadas à movimentação relativa dos blocos. O deserto de Mojave, com os relevos residuais e pedimentos a perder de vista, parece interminável e liga-se a outro também interminável, o de Sonora. As rochas paleozóicas são cortadas em discordância por escoadas de lava com apenas 2000 anos, onde se formaram alguns canais lávicos.
Antes da entrada no Arizona vimos a Providence Mountains State Recreational Area e a Mitchell Caverns, uma pequena gruta provavelmente de origem termal, caracterizada pela existência de fenómenos relacionáveis com a paleosismicidade regional mas famosa pela rodagem de um filme dos Doors com o mítico Jim Morrison.
A travessia do deserto de Sonora é apenas refrescada pela passagem do Rio Colorado e os seus campos de regadio, os motéis e os desportos náuticos.

O deserto de Mojave @JACrispim - CeGUL- SPE, 2009

Escoada basáltica @JACrispim - CeGUL- SPE, 2009

À entrada da Mitchell Caverns @JACrispim - CeGUL- SPE, 2009

Mitchell Caverns sala onde filmou Jim Morrison @JACrispim - CeGUL- SPE, 2009

O Rio Colorado perto de Topock @JACrispim - CeGUL- SPE, 2009


 

Dia 10 de Julho

Fizemos hoje as nossas despedidas aos desertos da Basin and Range Province do Arizona ocidental e meridional e entrámos nas terras planas da Colorado Plateau Province, ainda com um ligeiro vislumbre das serras das Central Highlands.
Pelo caminho foram ficando a reserva dos índios Hualapai e Peach Springs, a povoação mais importante desta reserva. Um dos extensos vales onde se situa a reserva é uma depressão (cp basin) preenchida com depósitos cenozóicos que contacta com a Peacock Moutain (cp range), formada por granitos, gnaisses e xistos do Precâmbrico. Nalguns locais é de novo visível a cobertura riolítica terciária e basáltica quaternária e os relevos em mesa associados. Imediatamente a leste da povoação de Truxton, as escarpas de Grand Wash Cliffs representam o bordo ocidental do planalto do Colorado e indicam a passagem de uma falha normal com milhares de metros de rejeito que se estende durante mais de 200 km até ao estado do Utah.
O objectivo principal era a visita de uma gruta formada nos calcários mississipianos (cp Carbónico) da formação Redwall, com o nome de Grand Canyon Caverns. O aspecto mais característico desta gruta é a grande profusão de formações de calcite e gesso que cobrem algumas partes do tecto e das paredes. Têm formas esferoidais ou botrióides e raras helictites ou cristalizações mais finas de selenite. Em muitos locais, as paredes estão extensivamente fracturadas e apresentam o aspecto de uma brecha com blocos separados, com evidências de rearranjo estrutural tendente ao equilíbrio geomecânico. Entre as muitas curiosidades turísticas, salienta-se a existência um gato selvagem (bob cat) mumificado, vestígios de unhadas de urso na base de uma chaminé e uma reserva de mantimentos e primeiros socorros deixados na gruta em 1962 durante a crise dos mísseis em Cuba.
O resto do dia foi feito em direcção a Tusayan, uma pequena povoação na entrada principal do parque nacional do Grand Canyon, percorrendo a floresta de coníferas da National Kaibab Forest, com cedros e pinheiros e a Rocky Mountain Montane Forest com pinheiros com a conhecida designação de ponderosa. O substrato é constituído por escoadas basálticas e cones de cinzas que cobrem irregularmente os calcários pérmicos da formação de Kaibab.
Relevo em mesa escoada de basaltos cobrindo riolitos @JACrispim - CeGUL- SPE, 2009

O grupo em galeria da Grand Canyon Caverns @JACrispim - CeGUL- SPE, 2009

Botrióides cobrindo formações esferoidais @JACrispim - CeGUL- SPE, 2009

Bob cat mumificado @JACrispim - CeGUL- SPE, 2009

Restaurante e lojas que antecedem a entrada na Grand Canyon Caverns @JACrispim - CeGUL- SPE, 2009

Mantimentos da crise dos mísseis na Grand Canyon Caverns @JACrispim - CeGUL- SPE, 2009

Pinheiros ponderosa na floresta de Rocky Mountain Montane @JACrispim - CeGUL- SPE, 2009

 

Dia 11 de Julho

O dia de hoje foi reservado integralmente ao Grand Canyon. Já ontem, após a chegada a Tusayan tínhamos ido matar a curiosidade com a vista desde a Mather point e visita ao centro de interpretação, mas hoje foi a descida pelo trilho de Kaibab e o percurso pela Hermits Rest Router do bordo sul do canhão.
A descida pelo trilho de Kaibab até Cedar Ridge tem 4,8 km de extensão, um desnível de 347 m e inicia-se no Yaki Point aos 2213 m de altitude. Permitiu observar com pormenor algumas das formações mais recentes que formam a parte superior das paredes do canhão. O início da caminhada é um ziguezague por uma parede vertical talhada nas formações de Kaibab e de Toroweap (Pérmico) constituídas por calcários com sílex, arenitos, siltitos e algum gesso. As bancadas mais brandas permitem a formação de rampas inclinadas utilizadas pelo trilho. Imediatamente abaixo aparecem os arenitos brancos da formação de Coconino, também do Pérmico, seguidos de siltitos e arenitos vermelhos da formação de Hermit com fácies de canal e planície de inundação. Mais abaixo aparecem os arenitos avermelhados e com estratificação cruzada da formação de Esplanade, ainda do Pérmico, cuja estrutura e textura denunciam formação em ambiente de praia e dunas costeiras. Por baixo da Cedar Ridge ficam as escarpas verticais formadas nos calcários da formação de Redwall Limestone, já do Carbónico (Mississipiano), que é considerada a formação cársica mais importante da região. As grutas não são, todavia, de muito fácil acesso e algumas das que se vislumbram nas escarpas permanecem ainda por explorar. Todavia, conta-se que em algumas das que foi possível atingir após aturado esforço de escalada ou rappel foram encontrados vestígios de ocupação pelos americanos nativos em épocas anteriores à invasão e colonização branca.
A observação de toda a coluna estratigráfica obriga a percorrer um desnível de cerca de 900 metros em trilhos com cerca de 15 km e permanências entre 6 a 9 horas, o que estava nitidamente fora do alcance do grupo. Ficaram por ver, além dos calcários da Redwall, os dolomitos avermelhados da Temple Butte Formation (Devónico), os calcários da formação Muav, os argilitos da formação Bright Angel, os arenitos da formação Tapeats (constituindo estas três formações o Grupo de Tonto, do Câmbrico), o Grupo de Unkar (Proterozóico médio), bem como as rochas metamórficas, ultramáficas e graníticas do Proterozóico inferior. Interessante será também observar, na próxima visita, os materiais e os aspectos das lacunas, com ou sem discordância angular, entre o Proterozóico inferior e o médio, entre este e o Câmbrico e entre o Câmbrico e o Devónico, esta com cerca de 150 milhões de anos mas durante a qual a estrutura se terá mantido horizontal.
Vista geral do Grande Canyon desde Yaki Point @JACrispim - CeGUL- SPE, 2009

Aspecto do trilho na descida para Cedar Point @JACrispim - CeGUL- SPE, 2009

Calcários com sílex da formação de Kaibab do Pérmico @JACrispim - CeGUL- SPE, 2009

Estratificação entrecruzada nos arenitos da formação de Esplanade do Carbónico @JACrispim - CeGUL- SPE, 2009

Parte do grupo em Cedar Ridge @JACrispim - CeGUL- SPE, 2009

Rochas detríticas vermelhas da formação de Hermit do Pérmico @JACrispim - CeGUL- SPE, 2009

Trabalhadores do serviço de parques melhorando o antigo trilho @JACrispim - CeGUL- SPE, 2009

 

Dia 12 de Julho

O dia do adeus ao Grand Canyon começou com a visita da parte leste do canhão, no Desert View Point, local da Watch Tower. Aqui estamos perto da confluência com o Little Colorado River e no início do monoclinal de Kaibab. As camadas do Pérmico inclinam ligeiramente para nordeste pelo que caminhando neste sentido começa a aflorar o Triásico. O canhão do Little Colorado River tem, na parte visitada, cerca de 300 metros de profundidade mas como é mais estreito constitui também uma garganta impressionante.
O percurso continuou nas rochas do Triásico, constituídas por conglomerados e arenitos vermelhos, com algum gesso, das formações de Moenkopi, Shinarump e Chindle, que originam relevos em mesa cujas cornijas se desmoronam facilmente por acção da erosão diferencial. Sobre estas rochas depositaram-se materiais vulcânicos cenozóicos do Campo Vulcânico de San Francisco. No Wupatki National Monument visitámos as ruínas de Citadel, onde se pode observar uma dolina de abatimento que afecta a escoada de lavas, as ruínas de Lomaki e relevos em corredor atribuídos a abertura de fissuras no substrato e as ruínas de Wupatki, onde se situa um sopradouro com um funcionamento aerodinâmico pouco esclarecido.
O Sunset Crater Volcano National Monument é constituído pela Sunset Crater, com os seus cones de cinzas e escoadas de lava pahoehoe e aa. A erupção terá durado cerca de 10 anos e deve ter ocorrido há cerca de 1040 a 1100 anos de acordo com datações paleomagnéticas. O vulcanismo responsável por estes fenómenos é de tipo fissural.

O Grand Canyon perto de Desert View com Watch Towe @JACrispim - CeGUL- SPE, 2009

Pinturas dos Navajos na Watch Tower, Desert View @JACrispim - CeGUL- SPE, 2009

O canhão do Litle Colorado River @JACrispim - CeGUL- SPE, 2009

Ruinas de Lomaki e earth crack com possível origem tectónica @JACrispim - CeGUL- SPE, 2009

Abatimento de tecto de canal lávico de escoada no Sunset Crater Nacional Monument @JACrispim - CeGUL- SPE, 2009

Escoada aa e cone de cinzas no Sunset Crater National Monument @JACrispim - CeGUL- SPE, 2009

Os relevos da Meteor Crater, em último plano @JACrispim - CeGUL- SPE, 2009


 

Dia 13 de Julho

O último dia no Arizona foi especialmente dedicado ao Parque Nacional da Floresta Petrificada, situado a este de Holbrook, no extremo oriental do estado do Arizona. A designação é devida à abundância de troncos de árvores petrificados no interior da formação de Chinle, do Triásico. A região foi declarada Parque Nacional pelo presidente dos EUA, Roosevelt, em 1906. Até então os troncos eram pilhados e até havia uma indústria de produção de abrasivos que efectuava a moagem dos troncos. Ainda hoje, fora da área do parque, empresas de venda de minerais e rochas se dedicam à extracção de troncos, que levam para os parques de exposição para venda aos turistas.
Uma das teorias sobre a formação desta floresta petrificada considera que no Triásico uma cadeia de vulcões situada a oeste ejectou grandes quantidades de cinzas que foram transportadas por ventos de oeste para as montanhas orientais. Chuvas fortes foram transportando as cinzas depositadas até à região da actual floresta petrificada. O rápido transporte e enterramento, bem como a sílica das cinzas vulcânicas forneceram as condições ideais para a formação da floresta petrificada. Foram já identificadas 40 espécies de plantas na Chinle Formation, em grande parte coníferas do grupo Araucarioxylon, que tem parentes próximos no Chile.
Foi também possível observar alguns aspectos do Painted Desert, onde as vertentes que expõem as diversas rochas da Chinle Formation exibem coloridos em tons de lilás, vermelho e cinza.
A entrada no estado do Novo México é assinalada também com a passagem pela Continental Divide, que é a linha de cumeeiras que constitui a divisória entre a drenagem para o Pacífico e a drenagem para o Atlântico.
Perto de Gallup situa-se um famoso alinhamento de relevos formados por camadas cretácicas fortemente inclinadas para oeste, designada por “The Hogback”, designação esta que foi consagrada na literatura geomorfológica para descrever relevos semelhantes.
A sudoeste de Grants visitámos o El Malpaís National Monument, que recebe o nome do facto de ser constituído por um campo de lavas recentes que torna o solo muito irregular. O cone de cinzas designado por Bandera Crater, com 10000 anos e escoadas com cerca de 1000 anos onde existem vários canais lávicos são alguns dos aspectos mais interessantes desta área protegida.
Neste dia foi ainda possível percorrer, a sul de Albuquerque, muitos quilómetros ao longo do vale do Rio Grande, instalado numa bacia de afundimento do tipo da do Grande Rifte em África. As falhas que limitam esta bacia chegam a ter rejeitos da ordem dos 7900 metros e são origem da quase totalidade dos sismos sentidos no Novo México. A bacia não mantém largura constante, mas perto de Albuquerque é cerca de 48 km e é limitada a leste pelas montanhas de Sandia, Manzano e Los Piños, esta já perto de Socorro, constituídas por granitos precâmbricos cobertos por calcários carbónicos e sedimentos mais recentes.
Alguns elementos do grupo observando dois troncos petrificados @JACrispim - CeGUL- SPE, 2009

Aspecto da estrutura longitudinal de tronco transformado em minerais de sílica @JACrispim - CeGUL- SPE, 2009

Parque de blocos da Petrified Wood Company @JACrispim - CeGUL- SPE, 2009

Aspecto do Deserto Pintado @JACrispim - CeGUL- SPE, 2009

Entrada no canal lávico Junction Cave @JACrispim - CeGUL- SPE, 2009

Vista do Hogback @JACrispim - CeGUL- SPE, 2009

O vale do Rio Grande e montanhas ocidentais, a sul de Albuquerque @JACrispim - CeGUL- SPE, 2009

 

Dia 14 de Julho

Outro deserto nos esperava hoje, o de Chihuahuan, com as suas imensidões planas, secas e quentes. Logo de manhã, no entanto, fomos visitar o Museu de Mineralogia do Novo México, situado no campus do New Mexico Institute of Mining and Technology. Foi fundado em 1889, recuperou de um incêndio em 1928, recebeu várias ofertas e fez aquisições de amostras valiosas, perfazendo o seu espólio, actualmente, cerca de 15000 especímenes. Está organizado de modo a fornecer uma importante colecção de minerais, gemas, fósseis e utensílios mineiros.
A travessia do Rio Grande a sul de Socorro permitiu observar os terraços cortados pelo ravinamento actual, os glacis e a planície de inundação denunciada pela faixa de vegetação contrastante com as regiões envolventes. O local da travessia mostrava um leito com um caudal razoável para a época do ano.
A caminho de Carrizozo, em direcção às Oscuro Moutains, passámos perto do Trinity Site, local onde se efectuou o primeiro teste com armas nucleares.

Uma das salas do Museu Mineralógico do Novo México @JACrispim-SPE-CeGUL-2009

Selenite, Museu Mineralógico do Novo México @JACrispim-SPE-CeGUL-2009

Auricalcite, carbonato de cobre e zinco, distrito de Socorro, Museu Mineralógico do Novo México @JACrispim-SPE-CeGUL-2009

Estalagmites de goetite e psilomelano do distrito de Socorro, Novo México, Museu Mineralógico do Novo México @JACrispim-SPE-CeGUL-2009

Fluorescência de minerais, Museu Mineralógico do Novo México @JACrispim-SPE-CeGUL-2009

O Deserto de Chihuahuan a oeste de Carrizozo @JACrispim-SPE-CeGUL-2009

`Vegetação ripariana associada ao leito do Rio Grande @JACrispim-SPE-CeGUL-2009

Planície de inundação e terraços do Rio Grande, com montanhas de Los Piños em último plano, a sul de Socorro @JACrispim-SPE-CeGUL-2009


 

Dia 15 de Julho

De regresso a Socorro e nova partida daqui, o primeiro objectivo era as White Sands. O sistema de vales do Rio Grande fez-nos companhia ao longo de toda a manhã, assim como os relevos que limitam a bacia, os pedimentos e leques fluviais, os arroios e os terraços. Em direcção a Carrizozo, no vale de Tularosa foi possível observar uma região com escoadas de lava recentes, onde existem numerosos canais lávicos e grutas resultantes da dissolução de uma camada de gesso subjacente às lavas.
Após Alamogordo dirigimo-nos ao Centro de Visitantes do White Sands National Monument para visitar este campo de dunas. A sua particularidade é que as dunas são formadas por partículas de gesso da dimensão das areias e não partículas de quartzo como acontece com a maior parte das dunas. A origem destas partículas é os lagos temporários existentes a sudoeste onde as águas que dissolvem os evaporitos do Pérmico das montanhas de San Andres, ao evaporarem-se permitem que se forme gesso secundário. Os ventos constantes de sudoeste no final do Inverno e princípio da Primavera transportam as partículas de gesso e depositam-nas na área das dunas, perdendo depois velocidade e mantendo assim a posição do campo de dunas.
No caminho para El Paso, atravessámos as montanhas de San Agustin, constituídas por granitos precâmbricos e que apresentam alguns leques fluviais de grande extensão com alguns arroios profundos. Após El Paso, a subida das montanhas de Hueco permitem avistar pela última vez o vale do Rio Grande e, mais para sul, o México.
A visita seguinte foi ao Centro de Visitantes do Guadalupe Mountains Nacional Parque, podendo-se apreciar o El Capitan, pico proeminente das montanhas de Guadalupe, com 2465 metros, que é um recife de idade Pérmico com cerca de 560 km de extensão. No caminho para Carlsbad foi ainda possível observar formas cársicas nas Yeso Hills, formadas por depósitos de gesso do Pérmico.
O dia terminou com um jantar no Washington Ranch na companhia de participantes em actividades em grutas na região de Carlsbad.
Arroio nos pedimentos do vale de Tularosa @JACrispim-CeGUL-SPE, 2009

Escoadas basálticas com Sierra Blanca ao fundo @JACrispim-CeGUL-SPE, 2009

Campo de dunas no White Sands National Monument, com San Andres Moluntains em último plano @JACrispim-Cegul-SPE 2009

Riples em superfície de duna nas White Sands @JACrispim-CeGUL-SPE, 2009

Vista geral de um dos locais de paragem no White Sands National Monument @JACrispim-Cegul-SPE 2009

Leque fluvial nas montanhas de San Agustin @JACrispim-CeGUL-SPE, 2009

Nuvens sobre El Capitan @JACrispim-CeGUL-SPE, 2009

O recife do Pérmico El Capitan @JACrispim-CeGUL-SPE, 2009

Jantar no Washington Ranch @JACrispim-CeGUL-SPE, 2009


 

Dia 16 de Julho

Este dia foi dedicado integralmente à Gruta de Carlsbad. Pela manhã foi a imperdível visita à livraria, centro de exposições e gifts shop, embora já haja poucos livros que sejam novidade. Antes da primeira visita à gruta ainda houve tempo para dar uma olhadela a algumas das formações Pérmico médio, nomeadamente a Tansill Formation, que aflora nas imediações do Centro de Visitantes do Carlsbad Caverns National Park.
A primeira visita foi um percurso livre de cerca de 3 horas e 3 km de extensão, descendo cerca de 60 metros pela Entrada Natural por passadeiras em caracol. O Main Corridor, com dimensões impressionantes tem aspectos interessantes como sejam as cúpulas de dissolução, blocos de abatimento (Iceberg rock) e concrecionamentos variados. A Big Room é caracterizada por vários conjuntos de estalagmites gigantes (Giant Dome, Twin Domes, Rock of Ages).
O almoço foi no interior da gruta, numa área designada por Rest Area and Lunchroom, que se liga à superfície por um elevador de 225 metros
A segunda visita constou de um percurso guiado por dois rangers, um dos quais geólogo com conhecimentos sobre a região. É o Kings Palace Tour, no qual também se tem a possibilidade de ficar a conhecer alguns aspectos da história da gruta.
Cerca das 20 horas muitos visitantes concentraram-se no anfiteatro em frente à entrada da gruta para ver a célebre saída dos morcegos. Com as normas rígidas de impedir a utilização de máquinas fotográficas, quem quiser registar esse espectáculo tem que se afastar da zona reservada.
Bancada pisolítica da formação de Tansill @JACrispim-CeGUL-SPE 2009

O grupo à entrada do centro de visitantes @JACrispim-CeGUL-SPE 2009

Entrada natural da Carlsbad Caverns @JACrispim-CeGUL-SPE 2009

Estalagmites gigantes na gruta de Carlsbad @JACrispim-CeGUL-SPE 2009

Excêntricas na gruta de Carlsbad @JACrispim-CeGUL-SPE 2009

Sala de estar e de almoços na gruta de Carlsbad @JACrispim-CeGUL-SPE 2009

À espera da saída dos morcegos da gruta de Carlsbad @ Pilar Vicente-SPE 2009

Nuvem de morcegos a sair da gruta de Carlsbad @JACrispim-CeGUL-SPE 2009

 

Dia 17 de Julho

Ainda o deserto de Chihuahaun, agora a caminho de Sonora, não sem antes visitarmos em Carlsbad a nova sede em construção do National Caves and Karst Research Institute e o museu Living Desert Zoo and Gardens, da New Mexico State Parks Division.
A primeira paragem foi para observar mais algumas fácies do recife pérmico de El Capitan: calcários com crinóides e briozoários.
Se a paisagem geomorfológica e geológica pouco muda ao caminharmos para sul, no entanto novos elementos vão surgindo como sejam os equipamentos relacionados com a extracção de petróleo.
Seguiu-se a travessia do Rio Pecos e a visita do Salt Lake a leste de Carlsbad. Os sais depositam-se em bacias fechadas, por evaporação das águas que circularam sobre formações pérmicas (Salado Formation). Perto de Loving atravessámos a planície de gesso (Gypsum Plain) onde existem algumas grutas e depressões cársicas, embora muito pouco profundas. Esta planície é talhada em gessos da formação de Castile, também do Pérmico superior.
Em Pecos, já no Texas, deixámos a terra sem lei, isto é, a terra “a oeste de Pecos” transformada num estereótipo do Velho Oeste pelos filmes americanos, e iniciámos uma interminável caminhada por uma região plana, com relevos em mesa capeados por calcários cretácicos. Estes relevos fazem já parte do famoso Edwards Plateau que cobre grande parte da região central do Texas e que continuámos a atravessar até Sonora, términus do dia de hoje.
O Edwards Plateau é também um dos aquíferos mais importante dos EUA.
Crinóides no recife pérmico de El Capitan @JACrispim-CegUL-SPE, 2009

Engenhos de extração de petróleo no Texas @JACrispim-CegUL-SPE, 2009

O rio Pecos, a sul de Carlsbad @JACrispim-CegUL-SPE, 2009

Bacia fechada com formação de sais @JACrispim-CegUL-SPE, 2009

Extensa mesa em calcários cretácicos de Edwards @JACrispim-CegUL-SPE, 2009

Talude em formações carbonatadas de Edwards @JACrispim-CegUL-SPE, 2009

 

Dia 18 de Julho

Este é o último dia da Coast to Coast Excursion –Western Segment e é dedicado à Gruta de Sonora, considerada por muitos a mais bonita gruta turística do Texas, nomeadamente pelo seu conteúdo de helictites.
Fica situada no Edwards Plateau, que é uma das maiores regiões cársicas contínuas dos Estados Unidos da América. A região central, constituída por calcários cretácicos e alguns dolomitos, do Grupo de Edwards Plateau, contém grutas importantes como o sistema da Powel Cave, um labirinto com cerca de 23 km de extensão, além da Gruta de Sonora.
A gruta é explorada turisticamente pela família do rancho de Mayfieid desde 1960, data em que a descoberta das galerias inferiores decoradas com cristalizações foi tornada pública.
A gruta desenvolve-se nas formações do membro de Segóvia do grupo dos Calcários Cretácicos de Edwards, ao longo de uma zona de falha. Tem 3,5 km de extensão mas apenas 37 de profundidade e supõe-se que se tenha formado entre 1,5 e 5 Ma, provavelmente por águas enriquecidas em ácido sulfúrico.
A Gruta de Sonora está repleta de cristalizações espectaculares, de que se salientam as helictites translúcidas rabo-de-peixe, entre as quais a famosa Borboleta que é o logótipo da gruta. Infelizmente, em 2006, um turista quebrou parte da helictite e o autor deste acto de vandalismo não foi ainda encontrado apesar do prémio de 20.000 dólares prometido a quem o denunciar.
De Sonora a Kerrville continuámos a atravessar o Edwards Plateau, agora constituído por margas nodulares da formação de Buda, do Cretácico inferior e  calcários de Glen Rose, em certas áreas transformados em brechas calcárias e dobras colapsadas, representando o preenchimento de dolinas de abatimento sobre grutas existentes nos Calcários de Edwards subjacentes.
Na chegada a Kerrville, a meio da tarde, encontrámos já grande animação na Universidade de Schreider, com grande afluência nas mesas de registo. Após a inscrição, visita do campus e alojamento foi a hora de rever velhos conhecidos e preparar o dia seguinte.
Estalactites com cristalizações na base, Gruta de Sonora @ JACrispim - CeGUL-SPE, 2009

Helictites denteadas na Gruta de Sonora @ JACrispim - CeGUL-SPE, 2009

O que resta da Borboleta da Gruta de Sonora @ JACrispim - CeGUL-SPE, 2009

Estruturas colapsadas na sequência estratigráfica do Edwards Limestone @ JACrispim - CeGUL - SPE, 2009

Cartaz à entrada do campus @ Pilar Vicente - SPE, 2009

Recepção espontânea à entrada do campus @ Pilar Vicente - SPE, 2009

 

Dia 19 de Julho

O congresso iniciou-se às 8 horas com uma sessão de abertura relativamente informal e ao ar livre, embora com os discursos da praxe. Falaram, entre outros, George Veni, na qualidade de presidente da comissão organizador e Andrew Eavis, presidente da UIS. No final foi içada a bandeira da UIS que ficou hasteada no edifício onde se realizam as assembleias-gerais.
Após um período de acreditação dos delegados nacionais, teve lugar a primeira assembleia-geral da UIS, que durou toda a manhã. A mesa foi constituída pelos membros do secretariado da UIS: Andrew Eavis, presidente, Fadi Nader, secretário-geral, Pavel Bosak e Alexander Klimchouk, vice-presidentes, e os secretários-adjuntos Stein-Erik Lauritzen, George Veni, Paul Williams e Kyung Sik Woo.
Foram aprovadas as actas da assembleia-geral do congresso anterior, realizado na Grécia (Kalamos-Atenas) e apresentado o relatório de actividade por Fadi Nader, a situação financeira, por Pavel Bosak que chamou a atenção para o facto de as contribuições terem vindo a diminuir desde 2004, referindo a necessidade de recuperar cotizações atrasadas de alguns países e passar o valor da cotização actual de dólares para euros, mantendo os montantes.
Seguidamente foram apresentados os relatórios de actividade das comissões da UIS em que intervieram. Jean-Paul Bertholeyns relatou a actividade da comissão de Protecção, Gestão e Turismo referindo, particularmente os esforços para elaboração de uma lei de protecção das regiões cársicas e grutas da Europa e impedir a venda de concreções. Stein-Erik Lauritzen referiu a actividade da comissão de Paleocarso e Espeleocronologia, salientando o projecto de elaboração de uma publicação sobre o tema. Foi proposta a mudança de nome da comissão “Grutas glaciárias e carsos das regiões polares” para “Glaciocarso e grutas no gelo”, pelo facto de ocorrer gelo em grutas fora das regiões polares. Jan Paul van der Pas referiu algumas proposta de próximos simpósios de vulcanoespeleologia, nomeadamente o que se realizará na Austrália em 2010, no âmbito da comissão de Grutas Vulcânicas. Alexander Klimchouk referiu o sucesso do site Speleogenesis e a intensa actividade dos membros da comissão de Hidrogeologia cársica e espeleogénese. Patrick Deriaz relatou as actividades da comissão de Bibliografia e o esforço para continuar a publicação do Boletim Bibliográfico Espeleológico, além de outros projectos. Peter Matthews expôs a bem estruturada comissão de Informática e as variadas vertentes de expansão. Pavel Bosak referiu a necessidade de a comissão de História da Espeleologia contar com a colaboração de membros de outros países além da Alkadi (Alpes, Cárpatos e Dináricos). Phillippe Brunet referiu como meta principal da comissão de Mergulho Subterrâneo resolver o problema das autorizações para mergulhar em grutas e elencou os cursos efectuados no âmbito da comissão.
Vários responsáveis de comissões não estiveram presentes. Alguns elaboraram relatórios que foram sumarizados na sessão. Noutros casos, a falta de contacto leva a equacionar a extinção dessas comissões. Foi ainda referida a proposta de criação de uma comissão de Microbiologia e geomicrobiologia.
Usaram ainda da palavra Juan Lopez, presidente da FEE, Efrain Mercado, pela FEALC, David Summers, pela ISCA e Peter Beron, pela BSU.
Foram eleitos dois auditores (Grace Matts e Sue Schindler) e uma comissão para as eleições do novo secretariado da UIS.
A apresentação de candidaturas para realização do próximo congresso internacional teve apenas a manifestação de intenções da Sociedade Checa de Espeleologia que se propôs organizar a reunião magna da Espeleologia em Brno, na República Checa em 2013.
Foram admitidos dois novos países membros, a Jamaica e o Paraguai.
Pavel Bosac apresentou moções s obre o código de ética e regulamento interno e Júlia James falou sobre os três prémios instituídos: o melhor poster, melhor publicação e melhor actividade espeleológica.
No final da sessão foi feito um minuto de silêncio pelos espeleólogos falecidos desde o anterior congresso, entre outros André Slagmolen e Jerzy Glazek.
Da parte da tarde a sessão foi preenchida com apresentações de José Labegalini, Andrey Eavis, Paolo Forti e Paul Williams.
O primeiro dia do congresso terminou, como é hábito, com uma gala que incluiu muita confraternização e música texana com o característico sabor mexicano.
15ICS-19Jul09_George_Veni_a_discursar_ao_lado_de_Andrew_Eavis__Pilar_Vicente_-_SPE_2009
George Veni discursa durante a sessão de abertura do congresso @Pilar Vicente - SPE, 2009
A bandeira da UIS é desfraldada durante a sessão de abertura do congresso @Pilar Vicente - SPE, 2009
A mesa da primeira assembleia geral da UIS @JACrispim-CeGUL-SPE, 2009
Andrew Eavis @JACrispim-CeGUL-SPE, 2009 Fadi Nader @JACrispim-CeGUL-SPE, 2009
Pavel Bosak @JACrispim-CeGUL-SPE, 2009 Alexander Klimchouk @JACrispim-CeGUL-SPE, 2009
Stein-Erik Lauritzen @JACrispim-CeGUL-SPE, 2009 Paul Williams @JACrispim-CeGUL-SPE, 2009
Kyung Sik Woo @JACrispim-CeGUL-SPE, 2009 Jean-Pierre Bartholeyns @JACrispim-CeGUL-SPE, 2009
Jean-Paul van der Pas @JACrispim-CeGUL-SPE, 2009 Patrick Deriaz @JACrispim-CeGUL-SPE, 2009
Juan Lopez Casas @JACrispim-CeGUL-SPE, 2009 Peter Beron @JACrispim-CeGUL-SPE, 2009
Julia James @JACrispim-CeGUL-SPE, 2009  
16th ICS - República Checa Sociedade Checa de Espeleologia
Noite de Gala @JACrispim-CeGUL-SPE, 2009
Grupo de música texana @JACrispim-CeGUL-SPE, 2009

 

Dia 20 de Julho

Este foi o primeiro dia de sessões de apresentação de comunicações nas áreas de Geomicrobiologia, Espeleogénese, Gestão de grutas e regiões cársicas e Técnicas, Equipamento e Projectos.
Algumas sessões contaram com assistência numerosa, como foi o caso da de Arthur Palmer sobre a história geológica das grutas da região de Black Hills, no Dakota do Sul, que ainda gera muita controvérsia sobre a idade e os contributos dos vários processos, hipogénicos e epigénicos, paleocársicos e recentes. Esta controvérsia foi, aliás, sustentada por outras apresentações, como a de DuChene sobre a influência da tectónica na espeleogénese nas Montanhas de Guadalupe e a de Carol Hill, sobre a espeleogénese no Grande Canyon.
A área mais recente de desenvolvimento da Espeleologia, a geomicrobiologia, além de retomar alguns temas tradicionais, como a alteração das concreções e a formação do mondmilch, explorou a senda da origem da vida, numa comunicação sobre as grutas do deserto de Atacama, abordadas como análogos para possíveis habitats para desenvolvimento da vida em Marte.
Enquanto nos átrios algumas bancas mantinham sempre uma assistência interessada, tiveram lugar as primeiras projecções de vídeos e apresentações 3D e houve ainda espaço para apresentação de posters de biospeleologia e sessões no âmbito do simpósio sobre fauna subterrânea rara ou em risco.
Realizaram-se também reuniões de algumas comissões da UIS (Físico-química e Hidrogeologia, Protecção e Bibliografia). O secretariado da UIS realizou reuniões durante todo o dia.
À noite, após e durante uma persistente e refrescante chuvada com ares de tropical, realizou-se uma festa com jantar, música, rodeo e malabarismos com laço executados por um cowboy em pé sobre um paciente cavalo. Educativo, pois conseguir dar nós numa corda, à beira de um precipício, só com uma mão e sem tocar na extremidade da corda, é obra.
Mapa com origem dos participantes no congresso @Pilar Vicente - SPE, 2009

Assistência na apresentação de Art Palmer @JACrispim - CeGUL- SPE, 2009

Capa da apresentação de DuChene sobre espeleogénese nas Montanhas de Guadalupe @JACrispim - CeGUL- SPE, 2009


Cartaz sobre a expedição para protecção de pinturas rupestres paleolíticas na Rússia @Pilar Vicente - SPE, 2009

Expositor do National Cave and Karst Research Institute @Pilar Vicente - SPE, 2009

Barbeque @Pilar Vicente - SPE, 2009

Cowboy em habilidades com o laço @ Pilar Vicente - SPE, 2009

 

Dia 21 de Julho

Este dia foi muito preenchido com comunicações em várias áreas temáticas: Estudos sobre concrecionamentos, Espeleogénese, Gestão de grutas e regiões cársicas, Técnicas cartográficas, Arqueologia e paleontologia, Pseudocarso e Explorações.
Entre as mais importantes no tema da Espeleogénese estão a de Filipponi e Jeannin sobre a distribuição do escoamento subterrâneo nos estágios precoces da espeleogénese, a de Audra sobre a formação e evolução das nascentes vauclusianas e a de Klimchouk sobre a gruta de Krubera, no maciço de Arábica. É interessante verificar a importância da crise messiniana do Mediterrâneo e a possibilidade de estender a abrangência deste episódio da história do contacto Eurásia-África ao Mar Negro.
Hoje foi o dia de realização das reuniões das comissões de Hidrogeologia Cársica e Espeleogénese, Arqueologia e Paleontologia, Pseudocarso e Espeleo-socorro
De entre as reuniões paralelas ao congresso que têm ocorrido, refiro a que hoje se efectuou por iniciativa de Juan Duran para constituição de uma Associação Iberoamericana de Grutas e Minas Turísticas, que contou com a presença de espanhóis, portugueses, mexicanos e representantes de países da América central e do sul.
A par das sessões científicas e funcionamento permanente dos stands de venda de equipamento e publicações, têm também decorrido várias visitas de campo: Cave Without a Name, Caverns of Sonora e Observação de voo de morcegos.
À noite foi dada uma recepção pelas organizações americanas de estudos espeleológicos e cársicos: Cave Research Foundation, Karst Waters Institute e National Cave and Karst Research Institute, na qual foi possível apreciar os principais projectos, como a continuação dos estudos na Mammoth Cave, publicações especializadas e expedições internacionais como a recente ao Laos.
Apresentação de Jeannin sobre estágios precoces de carsificação @JACrispim-CeGUL-SPE, 2009

Participantes na reunião constituitiva da Associação Iberoamericana de Grutas e Minas Turísticas @JACrispim-CeGUL-SPE, 2009

Apresentação de Klimchouk sobre Krubera @JACrispim-CeGUL-SPE, 2009

Livraria da NSS @JACrispim-CeGUL-SPE, 2009

Stand de venda de equipamento @JACrispim-CeGUL-SPE, 2009

Livraria da SpeleoProjects @JACrispim-CeGUL-SPE, 2009

Observando a topografia da gruta de Khoun Xe @JACrispim-CeGUL-SPE, 2009

 

Dia 22 de Julho

Em todos os congressos a 4ª feira é o dia das excursões. Este não foi excepção e pela manhã vários autocarros e carrinhas esperavam os participantes para visitas que abrangeram vários temas desde a “exploração” e kayak até ao pseudocarso, hidrogeologia, paleocarso, biologia, etc.
Uma das mais interessantes, por abordar aspectos característicos da hidrologia do Texas, foi a “Recharge and Discharge of the Edwards and Trinity Aquifers” que tratava algumas questões relativas à passagem entre a zona de contribuição e a zona de recarga e as nascentes dos aquíferos de Edwards e de Trinity.
A primeira paragem foi nas nascentes de Barton, que ficam situadas perto de uma falha do sistema de los Balcones. A saída da água foi represada formando uma piscina com água a cerca de 20º C de temperatura, que permite utilização durante todo o ano pois é fresca de verão e quente de inverno. É também o local da salamandra de Barton Springs (Eurycea sosorum) e da salamandra cega de Austin, Austin blind salamander (Eurycea waterlooensis). A primeira tem um recinto próprio onde pode ser mostrada em visitas de estudo.
O ponto de paragem seguinte foi a Antioch cave, um sumidouro no leito do Onion creek que constitui recarga natural do aquífero. Está agora protegido da entrada de detritos e existe um sistema de válvulas que permite cortar a entrada de água se a sua qualidade ultrapassar valores inadequados, através de comando veiculado por um sistema de telemonitorização.
A terceira paragem foi efectuada para visitar as nascentes Aquarena Springs (San Marco), que constituem um braço de rio que drena para o Sink creeek (ribeiro da dolina ou do sumidouro). Uma viagem de barco com fundo de vidro, permitiu observar os inúmeros pontos de saída da água, alguns com sistemas de amostragem para os testes de traçagem.
Finalmente, visitámos ainda o Jacob’s well, uma nascente que se inicia por um poço de 15 metros e tem acusado os efeitos de uma sobreexploração difícil de conter, que resulta numa continuada diminuição dos caudais. Uma associação de utilizadores da água deste aquífero (Trinity) tem tentado demover as autoridades regionais de licenciar a abertura de novos furos de captação e aprovar novos projectos urbanísticos. Sem sucesso. Nova urbanização de 1100 fogos está prevista e novos furos estão autorizados.
15ICS-22Jul09_Partida_para_as_excurses__Pilar_Vicente_-_SPE_2009

15ICS-22Jul09_Partida_para_as_exploraes__Pilar_Vicente_-_SPE_2009

15ICS-22Jul09_Piscina_natural_na_Barton_Springs_JACrispim-CeGUL-SPE_2009

15ICS-22Jul09_Aquarena_Springs_e_barcos_para_visita__Pilar_Vicente_-_SPE_2009

15ICS-22Jul09_Geologia_do_Edwards_Aquifer_em_Barton_Springs_JACrispim-CeGUL-SPE_2009

15ICS-22Jul09_O_grupo_junto__Antioch_Cave__Pilar_Vicente_-_SPE_2009

15ICS-22Jul09_Sistema_de_melhoramento_da_recarga_atravs_da_Antioch_cave_JACrispim-CeGUL-SPE_2009

Tanque com água de nascente construído para habitat da Salamandra de Austin @JACrispim-CeGUL-SPE, 2009

15ICS-22Jul09_Vlvulas_para_impedir_a_entrada_de_gua_na_Antioch_cave_JACrispim-CeGUL-SPE_2009

15ICS-22Jul09_Nascente_de_Jacobs_Well_JACrispim-CeGUL-SPE_2009

15ICS-22Jul09_Estendal_aps_o_regresso_do_campo__Pilar_Vicente_-_SPE_2009

 

Dia 23 de Julho

O congresso voltou hoje ao normal, com apresentações nas secções de Mineralogia, Grutas e hidrologia cársica, Exploração, Cadastro e Artes e Humanidades. O simpósio sobre salamandras teve o seu final e tiveram também lugar sessões no âmbito das Áreas Protegidas e Espeleo-socorro.
Ilustrando alguns dos temas, é de referir a apresentação de novas, ou talvez renovadas, soluções para medir a humidade relativa em grutas com precisão até perto dos 100% e novas contribuições para o estudo das associações mineralógicas nas grutas costeiras, com alguns exemplos muito interessantes de Maiorca.
As questões técnicas não incluíram novidades de vulto, mas houve alguns contributos que mostraram como com simplicidade e poucos meios se podem resolver problemas de segurança e socorro no seio da equipa. Noutros temas menos frequentados, como a filatelia, foi possível assistir também a algumas curiosidades como a ocorrência de erros e falsas interpretações em alguns selos com imagens de grutas.
Durante a manhã realizou-se uma reunião magna entre o Secretariado da UIS e os delegados nacionais, para debater questões de organização, papel dos delegados, site da UIS, regulamento interno e código de ética.
Hoje foi também o dia da reunião da Comissão de Mergulho em Grutas da UIS, na qual foram discutidas questões relacionadas com as acreditações e autorizações internacionais, organização da comissão, e disponibilidade da comissão de mergulho da federação francesa de espeleologia realizar cursos de mergulho em vários países.
A organização do congresso tem também disponibilizado um programa social que hoje contou com a visita à cidade de San António, onde foi possível visitar alguns monumentos relacionados com as guerras de independência do Texas.
À noite decorreu, no Cailloux Theater, em Kerrville, o Photographic Salon e o Salon Awards, onde foram apresentadas as obras postas a concurso: fotografia, multimédia, filmes, ilustração de periódicos, novas publicações e até música, pois é uma tradição norte-americana compor canções sobre espeleologia. A qualidade foi espectacular, quer do ponto de vista artístico, quer técnico e também documental.
Apresentação de psicrómetro de precisão @JACrispim-CeGUL-SPE, 2009

Merino e Forti durante uma apresentação no simpósio de mineralogia @JACrispim-CeGUL-SPE, 2009

Apresentação sobre a mineralogia de uma gruta de Maiorca @JACrispim-CeGUL-SPE, 2009

Sistemas simples de auto-segurança, Laidlaw @JACrispim-CeGUL-SPE, 2009

Perplexidades filatélicas, Chabert @JACrispim-CeGUL-SPE, 2009

Reunião do Bureau da UIS com os delegados nacionais @JACrispim-CeGUL-SPE, 2009

Participantes na reunião da Comissão de Mergulho em Grutas @JACrispim-CeGUL-SPE, 2009

Passeio no rio San António por paragens históricas @Pilar Vicente-SPE, 2009

Assistência para o Salon Awards @Pilar Vicente-SPE, 2009

 

Dia 24 de Julho

Durante a manhã e a tarde decorreram as sessões de apresentação de comunicações da secção de Meteorologia das grutas e do carso, Ecologia subterrânea, Geofísica em regiões cársicas, Divulgação e também do Simpósio sobre carso insular e do Workshop sobre Topografia e cartografia. Realizaram-se também as reuniões da comissão de ensino da UIS e da comissão do International Journal of Speleology e continuaram abertos os stands de equipamento espeleológico.
De entre as comunicações a realçar, salienta-se a de Giovanno Badino sobre o som das grutas, uma área de investigação que dá os primeiros passos. Apesar das incertezas e dificuldades metodológicas e instrumentais de abordagem, foi já possível obter algumas observações curiosas que talvez venham a permitir no futuro caracterizar as grutas pelo som que emitem ou, duma maneira mais poética, pela sua melodia.
Pelo contrário, o Workshop sobre Topografia e cartografia, mostrou que se continua num impasse relativamente à utilização dos aparelhos ligeiros de topografia a laser, mantendo-se a incerteza quando à escolha do melhor desempenho entre as várias propostas, as dúvidas quanto às calibrações e as dificuldades de obter os aparelhos. Também continua consensual que estes aparelhos aligeiram muito pouco os trabalhos e a maior percentagem de tempo gasto na topografia continua a ser com o desenho.
No Simpósio sobre o carso insular, foram reafirmadas e reformuladas algumas das teorias que vêm fazendo caminho na área da espeleogénese litoral, de Mylroie e outros, e foram mostrados alguns exemplos espectaculares de carsificação em rochas cenozóicas, como o caso das Ilhas Marianas, apresentado por Kevin Stafford, onde se observam linhas contínuas de grutas formadas pouco acima do nível do mar actual. Também a nascente de Port Miou, em Marselha, foi motivo da apresentação de comunicações neste congresso, nomeadamente nos aspectos relativos à contaminação com água do mar.
O programa social contou com, entre outras, uma visita a Fredericksburg, uma pequena cidade dos arredores fundada em 1846 por alemães e, por isso mesmo, caracterizada pelos inúmeros estabelecimentos dedicados à promoção e venda de cerveja.
À noite todos os congressistas foram convidados pela National Speleological Society dos EUA, a NSS, para um banquete no Don Strange Ranch. Todos assistimos à entrega dos prémios da Ciência, do Mérito, Carreira, etc. aos espeleólogos americanos que foram distinguidos este ano, pois a NNS Convention 2009 decorre em paralelo com o 15th ICS.
15ICS-24Jul09_Apresentao_de_Brucker_comparando_os_aparelhos_de_topografia_a_laser_JACrispim-CeGUL-SPE_2009

15ICS-24Jul09_Apresentao_de_Gilli_sobre_a_contaminao_da_nascente_de_Port_Miou_JACrispim-CeGUL-SPE_2009

15ICS-24Jul09_Badino_na_apresentao_sobre_o_som_das_grutas_JACrispim-CeGUL-SPE_2009

15ICS-24Jul09_Slide_da_apresentao_de_Stafford_sobre_as_grutas_costeiras_das_ilhas_Marianas_JACrispim-CeGUL-SPE_2009

15ICS-24Jul09_Stand_de_equipamento_espeleolgico_Pilar_Vicente-SPE_2009

15ICS-24Jul09_Uma_adega_de_provas_em_Fedrericksburg_Pilar_Vicente-SPE_2009

15ICS-24Jul09_Banquete_de_entrega_dos_prmios_da_NSS_Pilar_Vicente-SPE_2009

 

Dia 25 de Julho

O congresso aproxima-se do seu fim. Hoje ainda houve muitas apresentações, nomeadamente nas secções de Destinos internacionais nas ciências da terra, Sedimentos cársicos e dolinas, Protecção de fauna rara, Ecologia subterrânea e no Simpósio sobre grutas em lava.
Apenas dois destaques: primeiro para uma comunicação (Bird et al).sobre os efeitos da morfologia da superfície das condutas na variação do escoamento subterrâneo na qual, em particular, é abordada a génese das vagas de erosão e os efeitos provocados pelos ressaltos.com ajuda de software de simulação; o segundo para a descoberta de um canal lávico bastante inclinado de idade Pliocénico no Death Valley National Park, na Califórnia.
Foi também o dia de apreciar alguns aspectos menos prioritários deste congresso, como a piscina posta à disposição dos participantes, dar uma última espreitadela a alguns stands e almoçar mais descansado, aproveitando ao máximo o ar condicionado contrastante com o exterior.
Também era obrigatório ver a exposição dos Maiores Mapas das Maiores Grutas do Mundo, onde estavam expostas verdadeiras obras de arte do desenho manual e algumas das tentativas já bem sucedidas de utilização do computador no desenho de pormenor. Também era possível apreciar algumas das já conhecidas topografias efectuadas com os programas de topografia mais usados, excelentes na introdução da cor para visualização em perspectiva. Algumas das topografias mais complexas ilustravam partes de grutas famosas como a de Mammoth.
À noite de novo um banquete, no mesmo Don Strange Ranch. Além do convívio teve lugar uma sessão de discursos e finalmente a entrega, por Julia James, dos prémios para o melhor poster, as melhores publicações e expedição. Ford e Paul Williams foram galardoados pela 2ª edição do seu manual Karst Hydrology and Geomorphology, Patrick Deriaz recebeu o prémio atribuído a uma equipa suíça que editou Cavernes, face cachée de la Terre. Também as publicações La Grotte de Saint Marcel d’Ardèche, de Philippe Bruner et al., e o poster Laser scanning use in cave contexts, por Paolo Forti et al., foram premiados. O prémio para expedição coube a Erin Lynch sobre a primeira gruta com mais de 1000 metros de profundidade na China.
Depois de todos os prémios e discursos ainda sobrou tempo a Grace Matts para fazer o peditório habitual nos congressos da NSS e que este ano reverteu para a NSS e para a UIS: cerca de 800 USD.
Vista geral do refeitório durante o pequeno almoço @ Gada Salem, 2009

Slide da apresentação do estudo de Bird et al sobre hidrodinâmica

Apresentação de Holliday sobre canais lávicos na Califórnia @JACrispim-CeGUL-SPE, 2009

Piscina da Universidade de Schreider, utilizada pelos congressistas @ Pilar Vicente - SPE, 2009

Stand sobre as experiências de Michel Siffre @ Pilar Vicente - SPE, 2009

Entrega de prémio a D. Ford e P. Williams @JACrispim-CeGUL-SPE, 2009

Entrega de prémio a Patrick Deriaz@JACrispim-CeGUL-SPE, 2009

Vista geral da exposição de topografias @ Pilar Vicente - SPE, 2009

Topos de grutas no Laos apresentadas na exposição de topografias @ Pilar Vicente - SPE, 2009

Coleta para a UIS e NSS @ Pilar Vicente - SPE, 2009

 

Dia 26 de Julho

Último dia do congresso, dia de despedidas, de fazer fotos de e com os amigos, de relembrar alguns episódios e combinar novos encontros. Já poucos stands se mantêm, talvez só o da Sociedade Checa de Espeleologia para convencer os últimos visitantes das potencialidades do país que quer ser o organizador do próximo congresso.
A sessão oficial do congresso foi como todas as outras: relatórios, declarações de intenções das comissões e confirmação dos responsáveis, votações de braço no ar, por unanimidade, salvo algum esquecimento, e eleição dos novos corpos gerentes que ficaram assim ordenados:
Presidente: Andy Eavis (UK)
Vice-presidentes: Christian Dodelin (França) e George Veni (USA)
Secretário -geral: Fadi Nader (Líbano)
Secretários-adjuntos: Giovanni Badino (Itália), Jean-Pierre Bartholeyns (Bélgica), Alexander Klimchouk (Ucrânia), Kyung Sik Woo (Coreia do Sul), Stein-Erik Lauritzen (Noruega), Efraim Mercado (Porto Rico), Paul Williams (Australia), Nadja Zupan (Eslovénia)
Entretanto, Pavel Bosak foi eleito por unanimidade e aclamação presidente honorário da UIS.
A votação do país organizador do próximo congresso deu 39 votos a favor e uma abstenção (em 40 votos) e a representação da Sociedade Checa de Espeleologia fez a sua apresentação sobre o que projectam vir a ser essa reunião magna dos espeleólogos em 2013 em Brno.
Finalmente, foi tempo de George Veni, simbolicamente, entregar à representação checa a bandeira da UIS que esteve hasteada durante estes dias em Kerrville.
Completada a sessão de encerramento estava terminado o 15º Congresso Internacional de Espeleologia.
Stand de promoção da candidatura checa ao 16º CIE @ Pilar Vicente - SPE, 2009

1Belga, italianos e brasileiros@ Pilar Vicente - SPE, 2009

Grupo de espeleólogas libanesas @ Pilar Vicente - SPE, 2009

Paolo Forti e Crispim @ Anja Zupan, 2009



Último slide da paresentação da candidatura Checa ao 16th ICS @ JACrispim - CeGUL-SPE, 2009

Peri Frantz e Bill Franz @JACrispim-CeGUL-SPE, 2009

Momento de votação @ JACrispim - CeGUL-SPE, 2009

Passagem da bandeira da UIS para a Rep Checa 1 @ JACrispim - CeGUL-SPE, 2009

Passagem da bandeira da UIS para a Rep Checa 2 @ JACrispim - CeGUL-SPE, 2009


 

Dia 27 de Julho

Às 5:30 h da manhã já estávamos com a bagagem junto das carrinhas para começarmos o primeiro dia da nova excursão.
Parte do percurso já conhecíamos pois passava por Federicksburg mas esperavam-nos mais de 900 km até Hot Springs, já quase no centro do Arkansas. Foi uma viagem por terras planas sulcadas nalguns pontos por rios pouco encaixados, afluentes de rios principais ou desaguando directamente no Golfo do México.
A travessia contava com a passagem pelo planalto de Edwards e pela zona de falhas de Balcones, atravessando brevemente uma região com rochas graníticas e precâmbricas cobertas com formações paleozóicas do Central Texas Uplift. o resto do estado do Texas pertence à planície costeira do Golfo do México (Gulf Coastal Plain) e só perto de Hot Springs se atravessa a Ouachita Province, já na parte terminal das montanhas de Ouchita. A planície costeira do Golfo é em grande parte constituída por rochas cenozóicas e divide-se em várias províncias. Uma das que atravessámos tem a designação de Blackland Prairie, por ser formada por solos argilosos negros, muito férteis, resultantes da erosão de margas e crés do Cretácico superior.
Grande parte do extenso percurso foi feito sob chuva intensa e as paragens foram apenas as obrigatórias para abastecimento de combustível, excepto à entrada do estado de Arkandas, com a costumada visita ao centro de acolhimento para procurar alguns mapas e folhetos sobre o estado. Sem história também o jantar em de Hot Springs pois amanhã é que serão efectuadas as principais visitas na região.
Terras negras das Blacklands Prairies @JACrispim-CeGUL-SPE, 2009

Centro de acolhimento de visitantes do Estado de Arkansas @Pilar Vicente-SPE

Rio Ouachita, perto de Hot Springs @ Pilar Vicente-SPE, 2009

Jantar em Hot Springs @ Pilar Vicente-SPE, 2009

 

Dia 28 de Julho

O dia de hoje iniciou-se com a visita da cidade de Hot Springs. Esta cidade é famosa pelas suas nascentes de água termal e floresceu nos finais do séc. XIX e no séc. XX e chegou até a ser local de repouso de gangsters famosos. As crises económicas fizeram diminuir o fluxo turístico e actualmente muitos dos banhos e hotéis estão abandonados. A água das nascentes parece ter origem meteórica. Ela infiltra-se e ascende ao longo das camadas fortemente inclinadas do anticlinal invertido e falhado que forma o bordo da East Mountain. Ao atingir profundidades da ordem dos 1800 a 2400 metros a água aquece devido ao gradiente geotérmico regional e brota à superfície em cerca de meia centena de nascentes, com temperaturas entre os 35 e os 64ºC. O caudal total é cerca de 3,2 m3/dia. Os tufos calcários precipitados das águas das nascentes cobrem uma área de cerca de 8 hectares e têm espessuras superiores a 3 metros, nalguns locais.
Apesar da chuva forte ainda efectuámos um desvio para observar um pequeno afloramento de carbonatitos que constituem um plug do Cretácico, nos arredores de Hot Springs. A rocha aparece facetada pelas superfícies de clivagem dos cristais de calcite com dimensão centimétrica. Dadas as dimensões do afloramento não são conhecidos fenómenos cársicos.
Dirigimo-nos em seguida ao Parque Estatal Arqueológico de Toltec Mounds. Este parque é constituído por um conjunto de montes de topo aplanado (mounds) com aparência semelhante às pirâmides trapezoidais dos povos de regiões bastante mais a sul. Os mounds distribuem-se em alinhamentos com posições e distâncias que são interpretadas como tendo objectivos astronómicos. Estes montes serviam como centros religiosos e sociais para os habitantes dos arredores. O sítio de Toltec foi habitado entre 600 e 1150 AC por uma pequena população de líderes políticos e religiosos. As escavações arqueológicas permitiram reconhecer vários enterramentos e locais de habitação e forneceram abundante espólio da cultura Plum Bayou, nomeadamente artefactos de pedra lascada e polida.
O limite oeste do conjunto de mounds é a margem de um lago instalado num arco de meandro abandonado (ox-bow) do rio Arcansas.
Finalmente seguimos para as Blanchard Springs Caverns. Estas grutas situam-se no planalto de Springfield, no centro-norte do Arcansas e tem cerca de 13 km de galerias que se distribuem por cinco andares. As grutas são formadas em calcários do Ordovícico e Carbónico e tem fortes marcas de encaixe de rios superficiais, traduzidas em remoção dos andares superiores, capturas e galerias abandonadas. Também são abundantes os abatimentos e grandes massas de concrecionamentos calcíticos. Nos andares inferiores existem galerias vadosas, sifões e galerias freáticas. Alguns aspectos interessantes são as anastomoses, os tectos planos, concrecionamentos debaixo de grandes cúpulas e mantos calcíticos com grandes dimensões.
O jantar foi servido já em Mammoth Springs, onde pernoitaremos
Entrada para o Parque Nacional de Hot Springs @JACrispim-GeGUL-SPE, 2009.

Cascata de água termal sobre tufo e tanque, em Hot Spings@JACrispim-GeGUL-SPE, 2009

Afloramento de carbonatito com clivagens de calcite @JACrispim-GeGUL-SPE, 2009

Um dos mounds do Toltec Mounds, em último plano à direita @Pilar Vicente-SPE, 2009

Artefactos líticos em sílex dos índios Plum Bayou expostos em Toltec Mounds @JACrispim-GeGUL-SPE, 2009

Ox-bow, arco de meandro abandonado do Rio Arkansas, junto a Toltec Mounds @Pilar Vicente-SPE, 2009

Greers Ferry Lake, albufeira no rio Little Red @ Pilar Vicente-SPE, 2009

Tecto plano, Blanchard Springs Caverns @ JACrispim CeGUL-SPE, 2009

Anastomoses, Blanchard Springs Caverns @ Pilar Vicente-SPE, 2009

Cúpula com concrecionamento associado, Blanchard Springs Caverns @ Pilar Vicente-SPE, 2009

Giant Flowstone, Blanchard Springs Caverns @ Pilar Vicente-SPE, 2009

Jantar em Mammoth Springs @ Pilar Vicente-SPE, 2009

 

Dia 29 de Julho

Entrados nos planaltos do Ozark, entre os rios Arcansas e Missouri, pode dizer-se que hoje foi o dia das nascentes. É uma região com uma diferença de relevo que raramente excede as três dezenas de metros excepto ao longo dos vales dos rios principais. Apesar de ser uma região com extensas áreas cársicas as dolinas e vales estão cobertos por formações impermeáveis com espessuras que chegam a atingir os 50 metros. As formações cársicas são constituídas por dolomitos do Câmbrico e Ordovícico e calcários com sílex do Carbónico.
Esta região é conhecida pelas inúmeras grutas e nascentes (milhares) com grandes caudais, por vezes superiores a 3 m3/s. Tem havido grande controvérsia relativamente à génese dos aquíferos, debatendo-se actualmente as teorias que defendem tratar-se de aquíferos formados por artesianismo, com formação de redes labirínticas multicompartimentadas, e as que defendem uma origem hipogenética para essas redes. Todavia, estudos isotópicos atribuem idades muito antigas às águas, o que, juntamente com discrepâncias de balanço dá espaço para outras interpretações, como a possibilidade de estar a ocorrer a deriva das divisórias subterrâneas reforçada pelo desnivelamento relativo (e basculamento?) dos blocos.
A primeira nascente visitada foi a de Mammoth Spring, que tem um caudal médio de 8 m3/dia, o que a coloca no segundo lugar do ranking das maiores nascentes do Ozark. O grande lago que cobre a nascente está sobre uma galeria que se situa cerca de 20 metros abaixo da superfície das águas. Em 1925 uma empresa apropriou-se da nascente mas vinte cinco anos depois o Estado do Arcansas expropriou-a. A bacia de drenagem, todavia, situa-se a norte e noroeste, nas West Plains do Missouri.
Em seguida, após a travessia da fronteira entre o Arcansas e o Missouri, dirigimo-nos à Alley Spring, uma das mais visitadas dos Ozarks, talvez por associar várias pequenas grutas e um antigo moinho de cereais. Tem um caudal médio de cerca de 3 m3/dia e forma, como as outras, um espectacular regolfo com água azul-turquesa.
A Round Spring, que visitámos depois, tem um caudal menor (1,5 m3/dia) mas forma também um belo lago sobre um poço circular com pelo menos 15 m de profundidade dificilmente mergulhável devido à força da água. A poucos metros de distância, outro lago circular dá sobre uma dolina de colapso, provavelmente sobre outra galeria. Esta nascente também se desenvolve nos dolomitos do Câmbrico da Eminence Formation.
A gruta Round Cavern situa-se junto à nascente e, embora não esteja directamente ligada à nascente, permite apreciar alguns dos factores mais influentes na espeleogénese regional, nomeadamente o papel da fina camada de arenitos da formação Gunter, da base do Ordovícico. A gruta apresenta ainda outras curiosidades como a importante fauna de salamandras, covas de ursos e marcas de unhadas. Em 1960 o governo federal expropriou a gruta, que está actualmente reservada para fins didácticos sob a responsabilidade do Ozark National Scenic Riverways.
Para o fim do dia ficou a visita à maior nascente da região, e uma das maiores dos EUA, a Big Spring. Tem um caudal médio de 9,5 m3/dia e máximos de 30 a 50 m3/dia. Brota na base de uma escarpa de dolomitos câmbricos da Eminence Formation e a força da água tem sido um obstáculo à exploração em espeleomergulho. A nascente drena uma área superior a 1500 km2 e traçagens efectuadas de distâncias de 65 km obtiveram velocidades da ordem dos 500 m/dia.
Mammoth Spring, Arcansas @ JACrispim, CeGUL-SPE. 2009

Alley Spring, Missouri @ JACrispim, CeGUL-SPE. 2009

Big Spring, Missouri @ Pilar Vicente - SPE. 2009

Cave Salamander, Eurycea lucifuga @ Pilar Vicente - SPE. 2009

Cova de Urso das Cavernas em Round Cave, Missouri @ JACrispim, CeGUL-SPE. 2009

Depósitos de manganês no tecto de galeria em Round Cave, Missouri @ JACrispim, CeGUL-SPE. 2009

Erosão das camadas dolomíticas do Câmbrico em Round Cave, Missouri @ JACrispim, CeGUL-SPE. 2009

Tecto com tubulares em Round Cave, Missouri @ JACrispim, CeGUL-SPE. 2009

Round Spring, Missouri @ JACrispim, CeGUL-SPE. 2009.JPG

 

Dia 30 de Julho

Neste quarto dia de excursão fizemos outra longa viagem, agora deixando para trás os planaltos do Ozark, atravessando a planície aluvial do Mississippi e, depois, a planície costeira do Golfo (Golf Coastal Plain). Pode dizer-se que hoje foi o dia dos rios pois atravessámos o Mississippi, o Ohio e o Tenneesse, embora estes também pertençam à bacia de drenagem do Mississippi.
O Mississippi é o segundo rio mais extenso do mundo e embora ao nascer, no lago de Itaska, tenha apenas cerca de 2 m de largura, chega a atingir 1,6 km nalguns locais. Ocupa uma bacia relacionada com a abertura de um rifte (Reelfoot Rift) e ao longo de uma das falhas associadas, New Madrid Fault Zone, ocorrem terramotos, alguns com magnitude elevada e que provocaram modificações importantes no rio, como a inversão do sentido do escoamento. Regularmente o rio extravasa as margens e espraia-se pela planície de inundação tornando a região extremamente fértil. Alguns locais ao longo deste rio têm também importância histórica, como o documentado no Columbus-Belmont State Park, que perpetua a memória de uma batalha decisiva na guerra civil entre a União e os estados confederados do sul.
Em Bowling Green, já no estado do Kentucky, visitámos os centros de investigação ligados ao carso da Western Kentucky University, nomeadamente o Crawford Hydrology Laboratory, dedicado principalmente à realização de traçagens em meio cársico.
As paisagens cársicas tornaram-se mais evidentes apenas no Pennyroyal Plateau, com dolinas e lagoas a aproveitar a impermeabilização dos depósitos detríticos.
A viagem terminou em Park City, já na área do Mammoth Cave National Park, onde ficaremos dois dias.
Equipamento de desportos náuticos no rio Current, subafluente do Mississippi @ Pilar Vicente - SPE, 2009

Plataformas industriais no rio Mississippi @ Pilar Vicente - SPE, 2009

Campos de soja na planície aluvial do Mississippi @ Pilar Vicente - SPE, 2009

Instalações no Columbus-Belmont Park, na margem do Mississippi @ Pilar Vicente - SPE, 2009

Quadro no Crawford Hydrology Laboratory @ JACrispim CeGUL - SPE, 2009

Dolina no Pennyroyal Plateau @ Pilar Vicente - SPE, 2009

 

Dia 31 de Julho

Começámos o dia no Park Mammoth Resort com um briefing com Rick Toomey sobre a região, o Kentuky Plateau, a Sinkhole Plain e a gruta de Mammoth Cave. Em particular, fizemos o ponto da situação sobre as traçagens efectuadas na região e sobre as linhas de circulação deduzidas, bem como prováveis divisórias subterrâneas.
Depois, já na companhia de Chris Groves, da Western Kentucky University, fizemos um percurso entre o Kentucky Plateau e a Sinkhole Plain, para avaliar as diferenças de morfologia e discutir as teorias propostas para a génese e evolução dos sistemas subterrâneos. Pelo caminho visitámos a Smiths Grove Uvala que, depois de apuradas discussões, passou a ser Smiths Grove Blind Valley, e a janela cársica de Cedar Sink cujas águas, niveladas com o Green River, apresentavam grande turvação devido às fortes chuvas da noite anterior.
Depois de almoço fizemos o percurso Mammoth Cave Historic Tour Route guiado por Art Palmer e Rickard Toomey. O objectivo principal foi o reconhecimento dos vários andares pelos quais a gruta se distribui e as discussões centraram-se à volta da hierarquia das várias galerias e a sua relação com o encaixe do Green River. De entre os aspectos mais curiosos refiram-se os vestígios de exploração mineira (saltpeter), marcas com assinaturas dos primeiros guias turísticos, antigos escravos que trabalharam nas obras de abertura ao turismo, restos de construções utilizadas em 1842-43 para tratamento da tuberculose, e um sem número de marcas da passagem dos nativos pela gruta, deixados desde há 4000 anos em mais de 19 km de gruta.
As grandes dimensões das galerias e a grande quantidade de blocos de abatimento são, do ponto de vista espeleológico, os aspectos mais impressionantes.
Ao fim do dia entrámos noutro dos muitos acessos ao sistema subterrâneo, a Carmichael Entrance para percorrer a Cleveland Avenue, uma galeria com as paredes e tecto cobertos por concreções de gesso, entre as quais muitas flores de gesso com formas variadas.
O jantar foi servido na Snowball Room, a 60 metros de profundidade. A designação desta sala deve-se ao aspecto das concreções de gesso brancas no tecto da gruta, que impressionaram os primeiros visitantes (trabalhadores escravos).
Briefing com Rick Toomey antes da entrada na Mammoth Cave @ JACrispim CeGUL-SPE, 2009

Dolinas na Sinkhole Plain @ Pilar Vicente-SPE, 2009

A depressão de Grove @ JACrispim CeGUL-SPE, 2009

A janela cársica de Cedar Sink @ JACrispim CeGUL-SPE, 2009

A entrada histórica da Mammoth Cave @ JACrispim CeGUL-SPE, 2009

Art Palmer dissertando sobre a génese da Mammoth Cave @ JACrispim CeGUL-SPE, 2009

Galeria elíptica na Mammoth Cave @ JACrispim CeGUL-SPE, 2009

Flores de gesso na Mammoth Cave @ JACrispim CeGUL-SPE, 2009

Jantar na Snowball Room, Mammoth Cave @ Pilar Vicente-SPE, 2009

 

Dia 1 de Agosto

Após um breve briefing junto ao hotel seguimos para outra das entradas para a Mammoth Cave, a Violet City Entrance, onde Rickard Toomey, director do Mammoth Cave International Centrer for Science and Learning, e a sua assistente Shannon Trimboli, nossos guias durante todo o dia, fizeram uma síntese dos aspectos mais importantes da visita de hoje.
Na primeira parte do trajecto atravessámos galerias com as dimensões “normais” desta gruta, nomeadamente grandes cúpulas de equilíbrio geomecânico dos tectos (Kämper Hall e Chief City) e galerias com secção rectangular. Depois derivámos para uma zona com meandros encaixados, com típico perfil em buraco de fechadura, que ligam alguns dos níveis de galerias e seguimos até ao nível inferior, onde observámos o rio em cheia devido às chuvas dos últimos dias, perto do ponto designado Echo River.
Pelo caminho fomos observando algumas curiosidades, como restos de carvões das tochas utilizadas pelos nativos, restos ósseos dos veados utilizados na alimentação, dejectos antigos, tectos enegrecidos pelos fumos das primeiras explorações turísticas, gesso fibroso, agulhas de gesso, etc.
Na aproximação do rio os sedimentos siltosos mostravam frescas marcas de corrente geradas na cheia destes dias e, finalmente, um sifão de águas turvas.
O regresso foi um interminável percurso por meandros, ora “estreitos” ora largos, e galerias altas até atingirmos, ao fim de 7 horas, a nossa já conhecida Snowball Room.
À noite, num jantar servido à entrada da Hidden River Caverns, em Cave City, foi tempo para as despedidas, ao som de uma banda Blue Grass. Esta gruta é um exemplo de sucesso de requalificação, já que, após muitos anos de utilização como vazadouro de lixos, um demorado trabalho de remoção e recuperação dos espaços naturais permitiu a reabilitação da gruta. Todavia, hoje os visitantes mais afoitos pouco se aventuraram pelo rio subterrâneo, temendo as escorregadelas fatais na nata argilosa deixada pela cheia da véspera.
Violet City Entrance, Mammoth Cave, com o grupo @ Pilar Vicente - SPE, 2009

Grande cúpula de abatimento na Mammoth Cave, com Shannon Trimboli em primeiro plano @ JACrispim-CeGUL-SPE, 2009

Negro de fumo em tecto de meandro desembocando na galeria principal, Mammoth Cave @ JACrispim-CeGUL-SPE, 2009

Símbolos em zig-zag dos nativos americanos, cobertos por grafitis recentes, Mammoth Cave @ JACrispim-CeGUL-SPE, 2009

Aspecto de um dos colectores principais, Mammoth Cave @ JACrispim-CeGUL-SPE, 2009

Cristais aciculares de gesso, Mammoth Cave @ JACrispim-CeGUL-SPE, 2009

Rickard Toomey perto do Echo River, Mammoth Cave @ JACrispim-CeGUL-SPE, 2009

Entrada da Hidden River Carvern @ JACrispim-CeGUL-SPE, 2009

Banda de Blue Grass em palco montado à entrada da Hidden River Caverns @ Pilar Vicente - SPE, 2009

 

Dia 2 de Agosto

Custa dizer adeus ao maior sistema subterrâneo do mundo mas tudo se resolve combinando trabalhos futuros e prometendo regressos.
Para trás vão ficando o planalto do Kentucky, as Interior Lowlands e a planície de Lexington (Bluegrass), até aparecer o planalto de Kanawha. As florestas cobrem os calcários, margas e arenitos do Mississipiano e Pensilvaniano e são atravessadas pelos rios Kentucky e Kanawha.
O próximo objectivo é o Carter Caves State Resort, onde afloram rochas com potencial de carsificação idêntico ao do planalto do Kentucky, isto é, os calcários do Mississipiano da formação de Sainte Geneviève e também os da formação de Chester. O parque tem sete grutas preparadas para visitas turísticas, das quais visitámos a X-Cave, a Cathedral Cave e a Cascade Cave.
A primeira é uma pequena gruta que constitui um andar superior ao actual nível de circulação do ribeiro Smoky Creek. Recebeu este nome por ter duas galerias que se cruzam em X. Tem algumas particularidades interessantes como paredes onde a erosão salientou a textura da rocha e tectos de meandro com fracturas e concrecionamentos associados.
A Cathedral Cave é formada por um conjunto mais vasto de galerias e salas onde se observam paredes com vagas de erosão e onde os exemplos de estratificação cruzada nos calcários da formação de Sainte Geneviève são muito mais espectaculares. A gruta é atravessada pelo ribeiro e tem várias entradas.
Um troço deste sistema de grutas tem o nome de Cascade Cave, que resulta da existência de uma cascata situada na extremidade de um meandro cujo tecto foi coberto por uma abóbada de betão. A água escavou uma canelura larga onde a textura da rocha também é posta em evidência.
Atravessámos a fronteira e entrámos no estado da West Virginia, quase sempre junto ao rio Kanawha e seus afluentes, passando por Charleston.
Tecto de meandro com estalactites associadas a fractura, X-Cave @ JACrispim-CeGUL-SPE, 2009

Textura dos calcários da formação de Ste Geneviève salientada por corrosão, X-Cave @ JACrispim-CeGUL-SPE, 2009

Estratificação entrecruzada nos calcários da formação de Ste Geneviève, Cathedral Cave @ JACrispim-CeGUL-SPE, 2009

Perda de um ribeiro numa das entradas da Cathedral Cave @ JACrispim-CeGUL-SPE, 2009

Caneluras formadas por cascata na Cascade Cave @ Pilar Vicente - SPE, 2009

O rio Kanawha em Charleston @ Pilar Vicente - SPE, 2009

 

Dia 3 de Agosto

Passar dias a percorrer milhares de milhas sobre rochas do Carbónico (Mississipiano e Pensilvaniano) e não visitar uma mina de carvão, não se poderia justificar facilmente. Por isso o dia de hoje foi iniciado com a visita à Beckeley Exhibition Coal Mine. O estado da West Virginia, com mais de 550 minas, é um dos principais centros de produção de carvão dos EUA e faz parte da região mineira dos Apalaches. Explora-se carvão betuminoso das formações do Pensilvaniano. Pela voz de um antigo mineiro muitas das técnicas e condições de extracção nos foram explicadas, ao mesmo tempo que nos mostrava os equipamentos, desde os antigos aos modernos: os velhos gasómetros, instrumentos rudimentares de furação manual, as bombas de água e até a gaiola com o canário para detecção de monóxido e a lancheira para o almoço. O museu conta a história da indústria mineira na região, apresenta alguns fósseis, utensílios utilizados pelos mineiros, e muitas fotos antigas.
A Organ Cave, que visitámos mais tarde, situa-se no planalto com o mesmo nome e que alberga meia centena de grutas. Tem mais de 60 km de extensão e é a sétima mais profunda do estado da West Virginia, com 148 metros de profundidade. Os calcários mississipianos do grupo Greenbrier são atravessados por oito rios subterrâneos que se juntam em dois sifões. Na gruta existem interessante formas vadosas que permitem traçar a história da evolução da circulação subterrânea. A gruta é também interessante por possuir um conjunto figurativo ilustrando a exploração de salitre (saltpetre).
Atravessada a fronteira entre a West Virginia e a Virginia seguimos em direcção ao Great Valley, até Natural Bridge, uma região situada no eixo de um sinclinal com o mesmo nome. Visitámos a Buck Hill Cavern (ou Natural Bridge Cavern), formada nos calcários do Câmbrico superior – Ordovício inferior da Beekmantown Formation. Um túnel artificial com 150 m de extensão dá acesso à Colossal Dome Room e a um conjunto de galerias escavadas ao longo dos estratos, com algumas salas e cúpulas de corrosão.
Ao cair da noite chegámos ao Natural Bridge Hotel, um edifício ao estilo colonial mas um pouco envelhecido e sem a recuperação conveniente, talvez também devido às sucessivas crises económicas.
Mineiro mostra antigo gasómetro de mão @ Pilar Vicente - SPE. 2009

Trado para furação manual @ Pilar Vicente - SPE. 2009

Entrada da Organ Cave @ JACrispim-CeGUL-SPE, 2009

Figuração de exploração de saltpeter, Organ Cave @ JACrispim-CeGUL-SPE, 2009

Nódulos de sílex, Organ Cave @ JACrispim-CeGUL-SPE, 2009

Bloco de tecto destacado por canais de tecto, Organ Cave@ JACrispim-CeGUL-SPE, 2009

Colossal Dome na Buck Hill Cavern @ JACrispim-CeGUL-SPE, 2009

Natural Bridge Hotel @ JACrispim - CeGUL- SPE, 2009

 

Dia 4 de Agosto

O dia começou com uma visita à Natural Bridge, logo pela manhã, ainda com algum nevoeiro mas que depressa se dissipou para dar lugar a um ambiente de estufa quente. Surpreendentemente, deparámo-nos com um arco verdadeiramente impressionante pelas suas dimensões, numa paisagem realçada pelas águas do ribeiro Cedar Creek e pela bruma. É formado nos calcários ordovícicos do grupo de Beekmantown e a sua origem cársica é afirmada por diversos autores.
Tendo como guia convidado Daniel Doctor, do USGS da Virginia, dirigimo-nos depois para norte, pelos Apalaches, para o coração da região de Valley and Ridge, atravessando o grande vale de Shenandoah. A primeira paragem foi nas Glenn Falls para visitar um afloramento de tufos calcários formados por uma pequena nascente com origem num dos muitos cavalgamentos com direcção nordeste-sudoeste. Ao atravessar um troço mais declivoso o ribeiro depositou o carbonato de cálcio formando um edifício em cascata onde se observam as fácies travertínicas, detríticas e de incrustações de plantas.
Mais a norte existe um grupo de grutas bastante interessantes e que são referidas em apoio das primeira teorias espeleogenéticas elaboradas nos Estado Unidos: Madison, Fountain, Shenandoah, Crystal, Luray, Jefferson, Grand e Endless, das quais visitámos as duas últimas. As Grand Caverns situam-se, juntamente com as duas primeiras, numa colina com a designação de Cave Hill, e é constituída por uma rede com padrão angular cuja direcção principal é paralela à cadeia dos Apalaches. A sua origem freática não é posta em causa mas é actualmente reavaliada à luz dos conceitos da hipogénese. Durante a visita os inúmeros discos de calcite que caracterizam a gruta foram alvo de grande discussão pelos participantes, que não conseguiram encontrar uma explicação que respondesse a todas as características observadas. Esta gruta foi a primeira a ser explorada sistematicamente com fins turísticos nos Estados Unidos mas actualmente encontra-se à venda, após ter falhado um acordo para a sua transformação em parque estatal.
A Endless Cave é também uma gruta muito interessante. Apesar de possuir igualmente vários discos de calcite, o que impressiona na gruta são as inúmeras e bem conservadas formas de erosão freática, nomeadamente anastomoses e canais de tecto. Situa-se no flanco da Massanutten Mountain (sinclinal de Massanutten) e é referida no célebre trabalho de Bretz de 1942 sobre a distinção entre formas freáticas e vadosas.
O grupo na cascata de Glenn Falls @ Daniel Doctor, 2009

A Natural Bridge, da Virgínia @ Pilar Vicente - SPE, 2009

O Shanandoah Valley e as montanhas da Blue Ridge, Virginia @ JACrispim-CeGUL-SPE, 2009

Cartaz anunciando as Endless Caverns , Virginia @ JACrispim-CeGUL-SPE, 2009

Disco de calcite nas Grand Caverns, Virginia @ JACrispim-CeGUL-SPE, 2009

Dois discos de calcite nas Grand Caverns, Virginia @ JACrispim-CeGUL-SPE, 2009

Tecto de anastomoses nas Endless Caverns, Virginia @ JACrispim-CeGUL-SPE, 2009

Canais de tecto na Endless Caverns, Virginia @ JACrispim-CeGUL-SPE, 2009

 

Dias 5, 6 e 7 de Agosto

Dia 5 de Agosto, último dia da excursão Coast to Coast – Eastern segment. Uma viagem desde Harrisonburg, onde pernoitámos, até Washington DC. As paisagens continuam idênticas às de véspera: floresta a cobrir toda a estrutura geológica dos Apalaches e a suavizar e obliterar parcialmente a morfologia característica. Uma imagem de satélite ou um MDT, ou até uma carta geológica ou uma simples carta topográfica são mais elucidativos que uma viagem a 70 (milhas) à hora. Claro que o Shenandoah Valley, a Blue Ridge ou as Washington Mountains são impressionantes pelo contraste de relevo e pelos alinhamentos sistemáticos, que sabemos serem paralelos à direcção geral da cadeia, mas apenas um ou outro talude da estrada mostra a estrutura das rochas e permite conferir a sua consistência com a paisagem.
De qualquer modo, já sabíamos que neste último dia o programa geo-espeleo dava lugar ao programa cultural e o objectivo era o Mall na baixa de Washington e, particularmente, o Smithsonian Museum of Natural History. A chegada a Washington em hora de ponta foi como se esperava e como não se desejava: avenidas cheias e silos de parqueamento lotados. Mas a viagem de metro até ao centro foi relativamente rápida: 1 hora desde Vienna/Fairfax até à Independance Avenue!
O Museu estava a abarrotar: famílias inteiras, e aqui as famílias são à grande e à americana; escolas inteiras, e aqui os pequenos são à grande e à americana; excursões inteiras, e até já os japoneses e chineses se começam a assemelhar a estes descendentes de europeus que ocuparam as grandes pradarias, desertos e montanhas e estabeleceram essa estranha forma de crescer, essa conhecida e velha forma de se expandir…
Com tal invasão de visitantes, em menos de um fósforo o nosso reduzido e pacato grupo de ficou completamente desfeito e, embora a espaços nos cruzássemos, cada um foi vendo aquilo a que objectivos sedimentados, a curiosidade ou o acaso os empurravam. Mas o museu é de facto grandioso, e um dia não é suficiente. Nem sequer para a área da geologia. A arqueologia, os solos, a biologia, etc., merecem cada uma um dia. Aqui, com tempo, é possível recuperar cultura perdida. Ali está toda a evolução. Razão têm os colegas Galopim e Barriga em querer continuar a lutar pela manutenção de alguma dignidade para o Museu de História Natural da Universidade de Lisboa, e tantos outros seriam necessários nesse Portugal enleado na moda da regressão.
Avaliada a impossibilidade de ver tudo, mais uma vez “foi decidido” voltar cá, como tão bem sabemos fazer com as nossas grutas. E guardámos alguma, já pouca, ligeireza nas pernas para dar uma espreitadela ao Capitólio, Museu do Índio Americano, Museu da Escultura e outros monumentos que descobríamos de passagem.
À noite, num restaurante tipicamente Texano, fizemos uma despedida mais ou menos regada (nada de ficar com o “nariz branco” como os morcegos), lacrimosa e fumada. E lá voltámos a prometer ir à Austrália, a Cuba, à Noruega, …. Pois, “a Ordem é grande e os frades são ricos”, como dizia a minha tia-avó, Que deus tem.
Para o dia seguinte, 6 de Agosto, ficaria a visita ao rio Potomac, à Casa Branca, ao Obelisco, ao Memorial de Lincoln, numas horitas a correr antes de partir para o aeroporto.
Atravessar o oceano contra o sentido de rotação da Terra é canja e em escassas 6 horas, ao som de Leonard Cohen (“Democracy is coming to the iU esSe Aei”, “First we take Manhattan, then we take Berlin”) estávamos, eu e a minha cara-metade Pilar, em Londres, voo nocturno (em honra do Jorge Palma).
Depois, fácil, passa um dia, é 7. Um saltinho e de novo a paisagem esgravatada e escarafunchada deste país de barrosentos em bicos de pés e com o dedo no ar (“senhora professora eu sei”, “senhora professora foi aquele menino”). Em pesadelo quase real, vejo por entre as nuvens hordas de autarcas, cada um ao comando do seu bulldozer, a abrir rotundas, variantes e parques industriais, e ministros rodeados de empresários de emblema partidário na lapela a inaugurar PIN’s e parques eólicos nos Parques Naturais.
Desculpem ter escrito tanto, mas hoje havia mais fotos do que nos outros dias, não há nada para fazer no avião, e o tipo do lado julga que lá por eu ser trinca-espinhas tem direito a ocupar metade do meu lugar, por isso a ideia de escrever ao computador foi excelente pois, de cotovelada em cotovelada, lá o conseguir fazer recuar para as fronteiras oficiais. Além disso, estou farto de crónicas chatas. Podem cortar o que acharem que não serve para nada (excepto se ainda não tiverem descendência).
Esta brejeirice? Claro, é porque amanhã é sábado (como dizia Vinicius de Moraes), dia 8, e a sina que me espera é estar em MV a arrastar teimosas e trôpegas garrafas de mergulho, a desenhar marmitas e vagas de erosão ou a descer 300 metros no Chou do Vale…
As Massanutten Mountains @ Pilar Vicente- SPE, 2009

Edifício do Smithsonian Museum, em Washington DC @ Pilar Vicente - SPE, 2009

Azurite, Smithsonian Museum, em Washington DC @ Pilar Vicente - SPE, 2009

Amostra de Iron Banded Formation, Smithsonian Museum @ JACrispim.CeGUL-SPE, 2009

Calcite verde com inclusões de duftite, Smithsonian Museum @ JACrispim.CeGUL-SPE, 2009

Exposição de calictes no Smithsonian Museum, em Washington DC @ Pilar Vicente - SPE, 2009

Malaquite com hábito estalagmítico @ JACrispim CeGUL- SPE, 2009

Meteorito de Tucson, com ablação da parte central, no Smithsonian Museum, em Washington DC @ Pilar Vicente - SPE, 2009

Maquete de Pterosaurus, Smithsonian Museum @ JACrispim.CeGUL-SPE, 2009

Reconstituição de cena pré-histórica, Smithsonian Museum @ JACrispim.CeGUL-SPE, 2009

Sala de exposições no Smithsonian Museum, em Washington DC @ Pilar Vicente - SPE, 2009

Último jantar em conjunto @ Pilar Vicente- SPE, 2009

O edifício do Capitólio, em Washington DC @ Pilar Vicente - SPE, 2009

Obelisco, Washington DC Pilar Vicente-SPE, 2009

A Casa Branca, Washington DC Pilar Vicente-SPE, 2009

Memorial à II Grande Guerra, Washington DC Pilar Vicente-SPE, 2009

Memorial a Lincoln, Washington DC Pilar Vicente-SPE, 2009

Estátua de Lincoln, Washington DC Pilar Vicente-SPE, 2009

Memorial à Guerra da Coreia, Washington DC Pilar Vicente-SPE, 2009

Ponte sobre o Rio Potomac JACrispim-CeGUL-SPE, 2009

Obras artísticas actuais em tecido, Museu Nacional do Índio Americano, em Washington DC @ Pilar Vicente - SPE, 2009

Escultura, Museu da Escultura, Washington DC @ JACrispim CeGUL- SPE, 2009

Com o apoio da Agência Ciência Viva a Sociedade Portuguesa de Espeleologia organiza oito visitas a regiões cársicas durante os meses Julho, Agosto e Setembro num total de 60 sessões:

  • • Grutas e Nascentes de Porto de Mós
  • • Do canhão da Caranguejeira, pelo menino do Lapedo, às fontes do rio Lis e ao Buraco Roto
  • • Da Arriba Fóssil da Serra dos Candeeiros às Grutas e Nascentes de Chiqueda
  • • As grutas que escondem as águas subterrâneas da Serra da Arrábida
  • • As nascentes dos rios Almonda e Alviela e a água que forma as grutas e os tufos calcários
  • • Passeio pela serra de Montejunto entre o Vale das Rosas e o anfiteatro de Pragança
  • • Grutas e nascentes do vale em canhão do Rio da Ota e de Alenquer
  • • Grutas da Praia da Adraga e Pedra d’Alvidrar, com a serra de Sintra à vista

As visitas corresponderam a actividades de divulgação da Geologia e dos georecursos, através de passeios científicos no campo que possibilitaram à população a observação activa e o contacto directo com cientistas e técnicos deste sector.

Coordenação:

  • Ilda Calçada
  • Rui Gonçalves

Apoio Científico

  • Prof. Doutor José António Crispim

Monitores:

Ana Félix
Ana Medeiros
Ana Rita Pires
André Blanco
André Vinhas
Bruno Fonseca
Bruno Fonseca
Carina Caria
Cristina Rito
David Ferreira
Filipa Luz
Filipe Alberto
Filipe Cera
Francisca Gusmão
Frederico Ferreira
Ilda Calçada
Inês Andrade
Inês Pereira
Joana Fragoso
Joana Oliveira
João Carvalho
João Casacão
Joao Correia
João Guerra
João Sebastião
Luís Ramos
Noel Moreira
Nuno Vieira
Pedro Fonseca
Pedro Marote
Pedro Mocho
Piotr Gajek
Rita Flora
Rosa Pita
Rui Gonçalves
Sofia Barbosa
Sofia Churro
Sofia Claro
Sofia Pereira

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Arriba do Fojo dos Morcegos

Gruta da Adraga

Canhão Cársico da Ribeira dos Amiais
trabalhoscfeto
Este Curso de Iniciação à Espeleologia tem como objectivo dar aos participantes a capacidade de visitar uma gruta de dificuldade média, quando enquadrados por chefes de equipa habilitados, e descobrir globalmente os diferentes aspectos culturais, científicos e ambientais relacionados com as grutas e regiões calcárias. Realiza-se nos dias 6, 9, 10, 21, 23 e 24 de Maio de 2009 e é composto por aulas teóricas, treinos técnicos em falésias e visitas a grutas de acesso vertical e horizontal. Curso de Iniciação à Espeleologia - Maio de 2009