Cadastro

A Costa da Mendiga é a designação local para a escarpa de falha que forma o bordo oriental da depressão da Mendiga. Com um comando nalguns pontos superior a 150 metros, esta vertente é sulcada por algumas linhas de água, em geral pouco entalhadas, cujo controlo estrutural se pode aferir no seu troço superior convexo onde são patentes fracturas com direcção WNW a NW.
Indicado em 1971 pelo Sr. António Carolino, da Azelha, numa grande jornada de prospecção feita por uma equipa da SPE constituída por João Sena e J. A. Crispim na qual foram identificados vários algares importantes da região, esta cavidade só mais tarde foi descida e constituiu uma das grutas de trabalho intensivo da SPE no final da década de 70.
O algar situa-se na base de um pequeno escarpado que limita um dos muitos ressaltos na vertente (“manga” é a designação local para a faixa de terreno, em geral menos inclinada e menos rochosa, situada entre duas cornijas contíguas formadas pelas camadas calcárias com maior espessura), a cerca de 470 metros de altitude.
Alguns algares importantes abrem-se em diaclases com esta orientação e em geral atingem grandes profundidades, como é o caso do Algar da Manga Larga.
Algar da Manga Larga
Paulo Caetano, João Noiva (na corda) e
Eduardo Paralta em poço a – 100 metros,
no Algar da Manga Larga. Foto JACrispim/SPE, 1988

Este algar foi descido pela primeira vez em 1971 por uma equipa da SPE constituída por Sá Pires e Edgar Ximenes, embora já houvesse na SPE alusão à existência desta gruta. Esta equipa, que trabalhava no âmbito do levantamento das grutas do concelho de Vila Nova de Ourém, elaborou também o primeiro esboço topográfico do algar.

Situado a cerca de 340 metros de altitude, já perto do sopé da vertente setentrional da Serra de Aire (cabeço da Goucha Larga), é dos poucos algares da região que atinge galerias fósseis. Após a descida do poço inicial com cerca de 50 metros atinge-se uma galeria larga que se desenvolve na direcção norte-sul e alcança uma extensão de cerca de 100 metros. A parte central e setentrional desta galeria é bastante concrecionada mas na parte sul a morfologia transforma-se e os abatimentos recentes do tecto dominam a paisagem. Uma passagem estreita e outra a meia altura na parede leste do poço de entrada dão acesso a outras partes da gruta com alguns aspectos curiosos a não perder pelo visitante interessado no estudo da evolução desta cavidade e da região. A profundidade máxima é, contudo, inferior a 70 metros. Algar da Malhada de Dentro
Pedro Fonseca e Mário Simões equipando um novo poço no fundo do Algar da Malhada de Dentro.

Foto JACrispim/SPE, 1988

Este é um dos algares mais impressionantes do Planalto de Santo António, sobretudo devido à sua entrada, de grandes dimensões e coberta de vegetação, e à morfologia da zona de entrada, que apresenta um grande lajedo em bancadas inclinadas para sul. Também foi um dos algares descido por Ernest Fleury no início do século XX, que dele desenhou um esboço topográfico que apresentou nos trabalhos que deu aconhecer.

Algar do Ladoeiro Boca
Entrada do Algar do Ladoeiro, vista de
sudeste para noroeste. Ao fundo,
João Machado e Eurico Teixeira preparam
um perfil de georradar (Foto JACrispim 2004)

O nome deste algar resulta do facto de serem conhecidas cerca de uma vintena de cavidades no extenso campo de lapiás do cabeço da Chainça. Este algar, o sétimo a ser descoberto, ficou por isso com a designação atribuída ao algar identificado pelos habitantes locais (das gralhas) seguida do número de ordem da sua descoberta. Data de 1960 o primeiro registo de incursões da SPE nesta área e, após sondagem deste profundo algar, a SPE decidiu construir um guincho mecânico para descida e subida dos espeleólogos, que foi utilizado um ano depois, com sucesso mas também com muitas peripécias, perpetuadas pelas histórias passadas de geração em geração e parcialmente descritas no artigo publicado pelo Artur e o Jaime no boletim da SPE. O Algar das Gralhas 7 no cabeco da Chainca
Pedro Fonseca iluminando
lago com cristais na Sala da Diaclase (foto JACrispim/SPE, 1985)
Situado no sopé da vertente setentrional de um vale seco que desce das serras da Mendiga para o interior do Planalto de Santo António, o Algar da Chou Jorge é outra das cavidades descidas por Ernest Fleury no início do século XX durante o seu trabalho na área de recarga da nascente dos Olhos de Água do Alviela. Este algar só voltaria a ser identificado com fins espeleológicos no início da década de 70 quando equipas da SPE, constituídas por José António Crispim, João Sena e Carlos Sá Pires, entre outros, prospectando a região de Cabeça das Pombas, ouviu contar que “apareceu por aí um francês que trazia burros com cordas e paus, acompanhado por uns dez homens; chegaram ao algar, montaram os paus em tesoira por cima da boca, com uma roldana por onde passavam as cordas; o francês ia descendo até ao fundo do algar enquanto os outros cá fora seguravam a corda para o descer”.

Algar da Chou Jorge
Foto tirada nas primeiras expedições
da SPE em 1970. Mantos estalagmíticos nas paredes do poço inicial, a cerca
de 60 metros de profundidade
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